OS MALES DA VIDA MODERNA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA – parte 2/2

OS MALES DA VIDA MODERNA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA – parte 2/2

Uma reflexão sobre as exigências da vida moderna, e como enfrenta-las sem perder o equilíbrio

Gilson Tavares – Psicanalista e educador
gilsontavares_psi@yahoo.com.br)

O sujeito, como ser falante, está submetido à estrutura da linguagem que também ordena as relações sociais. O sujeito se faz representar no seu discurso e, ao mesmo tempo revela algo da sua cultura, algo das referências simbólicas do seu grupo social, do seu país, da sua raça, da sua religião.
O DSM, Manual de descrição de doenças mentais, resumiu a doença a seus sintomas manifestos, podendo ser classificados e analisados independentemente das particularidades dos sujeitos que os sofrem.
O DSM produz, assim, uma transformação radical na clínica psiquiátrica, onde a ênfase se desloca da análise do sujeito para o tratamento de casos. Enquanto os sujeitos são definidos por sua singularidade, os casos são constituídos pela sua semelhança na apresentação de sintomas.
A difusão social do conceito da doença tem o objetivo de fazer com que o próprio paciente possa fazer seu diagnóstico e sugeriraté mesmo o tratamento farmacológico que achar conveniente.
O sintoma pode ser o resultado da incapacidade do psiquismo a se adaptar ao funcionamento neurofisiológico. Assim, o uso de medicação permanente para reequilibração deste funcionamento, pode ser necessária, acompanhada por um processo psicoterápico, que monitore os sintomas nas diversas estâncias da vida do paciente, inclusive naquelas que ele não considera como indicadoras de patologia.
Com a expansão da medicina, o antigo ideal cristão de salvação é substituído pelo ideal da preservação da saúde, associado ao mito de que ela pode ser obtida através da regulação cientificamente fundamentada de cada aspecto da vida individual.
No final do século XIX, Sigmund Freud, inicialmente um neuropatologista, desenvolveu um modelo de tratamento psicológico que revolucionou o entendimento da mente humana, ao qual deu o nome de psicanálise.
Durante anos, muitos dos psicanalistas entendiam as neuroses como exclusivamente "psicológicas", entendendo os tratamentos "biológicos" como inapropriados ou indesejados, uma vez que causariam apenas supressão dos sintomas, paliativamente, e, portanto, obstruiriam a exploração do problema "real". Desta forma, a medicação agiria não a serviço da cura, mas a favor da resistência. Especialistas em farmacoterapia, por sua vez, afirmaram que a psicoterapia era desnecessária ou até mesmo danosa, pois mantinha os pacientes preocupados com assuntos carregados de conflitos insalubres.
Revisando o uso adjuvante da medicação na psicoterapia, concluiu-se que as medicações eram mais úteis no alívio dos sintomas a curto prazo, permitindo que o paciente se tornasse mais acessível à exploração psicoterapêutica.
As drogas teriam seu maior efeito na formação dos sintomas e nas alterações afetivas, e fariam efeito mais precocemente, enquanto a psicoterapia influenciaria mais diretamente nas relações interpessoais e no ajustamento social, com efeito mais tardio e mais prolongado.
A decisão do uso de uma medicação psicotrópica requer uma consideração cuidadosa. O psiquiatra deve estar atento a que a decisão de prescrever um medicamento pode ser influenciada pelos seus próprios conflitos e desejos inconscientes. Tal decisão pode indicar uma incapacidade do terapeuta em suportar a necessária lentidão do processo psicoterápico. O psiquiatra pode, também, não estar conseguindo tolerar, conter, os afetos dolorosos, como a raiva e a tristeza, e medicar para aliviar a sua ansiedade.
O paciente que inicia um tratamento deseja uma solução para seu sofrimento. Ele tem a ambição de encontrar um remédio para sua dor. No entanto, o que a análise revela é que os seus sintomas não são meros sinais de uma doença qualquer vinda de fora; eles não indicam uma simples disfunção suscetível de ser reparada por um especialista. Pois o sintoma, no sentido psicanalítico, é um fato de estrutura, sendo a expressão da relação do sujeito com o desejo e, por isso, diz respeito a uma questão ética, isto é, das escolhas que o sujeito faz na vida. Por conseguinte, o que uma psicanálise oferece é a possibilidade de o sujeito, a partir de sua própria fala, atravessar a sua fantasia inconsciente, que concerne exatamente ao seu modo singular de agenciar sua relação com o desejo.
Decorre do que foi dito, que o sintoma analítico não possui remédio, pois não é possível o sujeito se curar de si mesmo, do modo como ele responde a questão do desejo. No entanto, com o avanço da farmacologia e da tecnologia médica, cada vez mais difunde-se a ideologia de que há remédio para o mal-estar do sujeito. A promessa de um bem-estar pleno é o que a medicalização do sofrimento veicula e nos dias atuais coloca em questão a possibilidade da psicanálise.
A própria mente só pode ser entendida comoresultante da interação de milhares pe processos cerebrais, orquestrados por interligações neuronais, algumas delas, filogeneticamente herdadas, permitindo que o estudo da neuroanatomia e neurofisiologia cerebral defina ligações entre determinadas regiões e determinados processos mentais.
Entretanto, a maior parte das ligações não está geneticamente determinada, mas vão se formando no decorrer de nossa vida, orientadas pelos estímulos externos que recebemos e pela própria vivência subjetiva que produzimos, ou seja, são ontogeneticamente determinadas. Características próprias e individuais que fazem aquele indivíduo se reconhecer e ser reconhecido.
Aquilo que percebemos como um psiquismo normal é o resultado de um processo ininterrupto e cumulativo, de assimilação de novas percepções e acomodação do sistema nervoso a essas novas experiências desde a formação da placa neural no ectoderma do embrião até o momento presente do indivíduo. Pensado desta forma o funcionamento psíquico se torna a emergência funcional de comportamentos capazes de equilibrar o funcionamento das estruturas neurofisiológicas com as experiências vividas no presente pelo indivíduo.
Também temos de considerar que o funcionamento do cérebro não é uniforme, nem os neurotransmissores possuem atuação específica em um determinado sintoma. Essa a diversidade e especialização do cerebro fazem com que a alteração sistêmica global produzida pela medicação, apesar de produzir os benefícios pela alteração do equilíbrio neuroquímico em uma determinada área cerebral, irá ao mesmo tempo desequilibrar outras áreas do cérebro ou mesmo alterar interações do sistema nervoso com músculos ou vísceras, produzindo, em maior ou menor intensidade efeitos colaterais, que freqüentemente são tão ou mais incômodos para o paciente que a própria doença.
De forma oposta, várias das "doenças mentais" não possuem base orgânica, pelo menos até o momento determinada. São causadas por produções subjetivas do próprio paciente. Fobias, neuroses, estresses pós-traumáticos e outras podem se dar em pessoas neurofisiologicamente sãs, mas que desenvolvem suas patologias após a vivência de determinadas situações.
Além disso, é necessário pensar que a ontogênese de um determinado indivíduo se dá através da utilização de um determinado conjunto de mecanismos neurofisiológico. Ele descobre como aprender, se relacionar, amar e ser ele mesmo através desse mecanismo. Qualquer mau funcionamento dessas estruturas foi compensado e utilizado durante a formação da personalidade. Pode inclusive integrar as capacidades mais preciosas para aquele indivíduo. Aí nos deparamos com um problema: a "cura" pode resultar em prejuízos maiores que a "doença".
Ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor, hipnóticos e tranqüilizantes devem ser adequadamente ministrados a pacientes que não apresentem melhora dos sintomas quando em processos psicoterápicos. Da mesma forma, pacientes que procuram uma abordagem medicamentosa devem ser encaminhados a processos terapêuticos concomitantes. Sob um outro enfoque, pode-se pensar na produção do sintoma por duas vias: A primeira é o sintoma como uma emersão psicológica produzida pelo psiquismo para prover sua equilibração. Nesse caso a medicação, e a supressão inicial do sintoma, resultará em um desequilíbrio ainda maior e a intensificação daquele sintoma, ou ainda o surgimento de nova sintomatologia equilibradora. Esse é o caso observado nas conversões somáticas e também a razão pela resistência de certos pacientes à medicação.
Por outro lado, o sintoma pode ser o resultado da incapacidade do psiquismo a se adaptar ao funcionamento neurofisiológico. Assim o uso de medicação permanente para reequilibração deste funcionamento pode ser necessária, acompanhada por um processo psicoterápico que monitore os sintomas nas diversas estâncias da vida do paciente, inclusive naquelas que ele não considera como indicadoras de patologia.
A medicação é usada como sistema de controle, não como resolução de um sofrimento; como controle das circunstâncias que, se controladas, supostamente vão parar o sofrimento. Ou seja, controla-se o sintoma, mas o sofrimento não pára. Quando alguém doente psiquicamente tem seus sintomas controlados, mas seu sofrimento não, ele não tem como responder a esse sofrimento. Por que, justamente, os sintomas são fabricados para responder ao sofrimento, para poder suportá-lo. Quando ele se vê privado desses elementos sintomáticos que têm a finalidade de permitir suportar, se defender contra o sofrimento que seu fantasma lhe causa, ele não sabe o que fazer com seu fantasma. Por isso, há tanta gente desorientada, apesar da medicação.
As pesquisas mais recentes mostram que depressões, surtos psicóticos e ataques de pânico alteram a estrutura cerebral em termos químicos (neurotransmissão), microscópicos (neurônios, dendritos e axônios) e finalmente estruturais (volume de certas estruturas cerebrais). O tratamento precoce e o bloqueio de recaídas restaura as funções e estruturas ao estado normal.
É comum que pacientes demandem ou recusem determinada medicação pelo significado imaginário colado ao objeto real, produto de metáforas que o discurso social produz. Pacientes psicóticos podem recusar o consumo de medicamentos antipsicóticos, porque o diagnóstico de que Está louco vem junto com a prescrição do remédio.
Assim, o uso de um medicamento anti-psicótico acarretaria numa desvalorização do sujeito, e não em um tratamento.
A ciência tem permitido introduzir o sofrimento e a doença mental no terreno da racionalidade. No último século, a superação da separação entre o psiquismo e o organismo levou a inclinação de centrar cada vez mais no organismo a determinação desse sofrimento. Porém, o conjunto das pesquisas da última década indica que o organismo humano é especial e particularmente sensível às condições que a cultura, a simbolização e o conjunto das significações sustentadas no campo da linguagem provocam.
É a partir destas considerações que os efeitos de um fármaco, e mais ainda os de um psicofármaco, em que o humano falante, atravessado pelo significante, nunca vão serem os mesmos que nos animais de laboratório da ciência experimental. É neste sentido que se parece possível situar na clínica psicanalítica os efeitos dos psicofármacos e sua eficácia, em termos do simbólico, do imaginário e do real. Ou seja, que a psicanálise pode conter a idéia dos psicofármacos. No entanto para isso terá que ser situado o possível lugar e função dos psicofármacos na estrutura, em cada caso particular. Os psicotrópicos tendem a diminuir ou amortizar o sofrimento psíquico do sujeito, que vive sua dura realidade sempre com muita angústia. O uso cotidiano de aspirinas, antidepressivos e calmantes, até os mais poderosos, aponta para uma cultura que tende a não tolerar nenhuma dor. Não há necessidade de resistir ao sofrimento, ele tende a ser banido do horizonte da boa saúde. A responsabilidade pelo estado de espírito do sujeito parece ser dividida com o remédio que pode modificar a intensidade de suas sensações, a velocidade de seus pensamentos, e conter a potência e a destrutividade dos sintomas e da angústia. A medicação interfere na intensidade pulsional do sujeito podendo criar condições de elaboração dos conflitos, porém, quando super-utilizadas, a longo e médio prazo, as drogas restringem e perturbam a sensibilidade dos pacientes.
Seja como for, os psicofármacos, melhor do que qualquer outra química, podem tornar melhor a vida de alguns pacientes. O uso que se faz das medicações tem um vetor muito claro na busca do alívio ou da atenuação do sofrimento, e, por esse motivo, resulta na diminuição da tolerância do sujeito à dor, de sua capacidade de elaboração masoquista.
Sem dúvida, os critérios de melhora dos métodos farmacológicos são definidos no interior de uma concepção psicopatológica e ética que considera a eliminação pura e simples dos sintomas como uma vantagem autoevidente, que justifica todos seus esforços e procedimentos. Contudo, o efeito da medicação não tem o poder de alterar qualitativamente os sentimentos e as representações presentes nos conflitos dos pacientes. Não há remédio para ciúmes, para inveja, para ambição, cobiça, fúria, raiva, e assim por diante. Neste ponto, a psicanálise tem muito a oferecer. O que permite a continuidade de um tratamento é a análise dos conteúdos psíquicos e do discurso do paciente, pois é aí que os conflitos podem ganhar elaboração. Os psicofármacos de um modo geral não promovem, por si sós, formas para o trabalho de resignificação e transformação dos motivos subjetivos da angústia. A psiquiatria biológica reconhece o fato de que os remédios não curam, apenas suprimem os sintomas em quase 70% dos casos.
No que diz respeito ao uso de psicofármacos, é a implicação do sujeito em seus desejos de alívio e prazer ligados ao objeto-droga, e ao poder médico, que o psicanalista busca durante o tratamento. Quando o paciente não consegue suportar as angústias de viver, ele deseja uma receita que o desobrigue do enfrentamento e da dificuldade dessa conquista, como se sua condição não guardasse qualquer relação com seus desejos.
É parte do senso comum contemporâneo a idéia de que várias formas de sofrimento, de mal estar, de distúrbios psíquicos, são causados, tratados e curados biologicamente,que já conhecemos o modo de funcionamento de nossos cérebros e mentes e que a ciência já teria descoberto ou estaria prestes a descobrir as razões últimas da normalidade e anormalidade do homem.
Os distúrbios psíquicos seriam provocados por alterações da neurotransmissão em determinadas regiões do cérebro: aumento ou diminuição dos neurotransmissores, maior ou menor disponibilidade dos receptores, interferências em suas relações recíprocas.
Estas alterações, por sua vez, poderiam ser provocadas por causas adquiridas - infecções, tumores,deficiências nutricionais, fatores psicológicos... ou por causas genéticas, as principais.
As neurociências são apresentadas como se pudessem oferecer,ao mesmo tempo,as provas afirmativas da veracidade das posições da psiquiatria biológica e as provas negativas para a refutação de todas as outras disciplinas.
A psicanálise acumulou conhecimentos sobre as emoções humanas, as relações afetivas, o desejo, a ambição e sobre os aspectos patológicos de todas essas motivações que orientam os impulsos, o pensamento e as ações do ser humano. É essa experiência acumulada que a psicanálise procura compartilhar com a sociedade para ajudar o homem na busca de um maior conhecimento sobre si mesmo, a descobrir suas capacidades, aceitar suas limitações, lidar com elas e poder desenvolver ações conseqüentes que revertam na melhoria de sua qualidade de vida.
A Psicanálise nos fornece instrumentos para compreender e interferir sobre o mal-estar da civilização e ultrapassa uma prática terapêutica individual. Esta interferência alicerça-se no diálogo com outros campos do conhecimento para refinarmos nossa apreensão da complexidade da realidade que nos cerca.
A euforia associada às neurociências e à biologia é correlativa de uma marcante biologização do homem. Para os defensores mais radicais do biologicismo, que se instalou no pensamento moderno, a natureza humana se reduz à sua estrutura biológica, o mal estar que a afeta é explicável biologicamente, seu tratamento é biológico e tudo isto já estaria definitivamente comprovado pela ciência.
Os fármacossão apresentados como eliminadores de mal-estar, atualizando a memória das funções do corpo, sem convocar o sujeito à construção da sua verdade.
Capítulo 4.Psicotrópico - o último recurso
"Os psicotrópicos substituem o compromisso do sujeito de enfrentar a realidade"
O uso de substâncias psicoativas, seja com finalidades curativas ou com outros fins, acompanha o homem de formas diversas ao longo da história da civilização, adquirindo significados muito distintos.
Desde tempos imemoriais, sabe-se que substâncias químicas introduzidas no corpo podem modificar estados psíquicos. Alcool, ópio, haxixe, cocaina, alucinógenos... foram usados largamente na história, pelas mais diversas civilizações, associados `as práticas de cura, de união com os deuses e com o sagrado, de revelação e aquelas puramente festivas.
A liberdade dos usos e costumes levou ao abuso das drogas. Nesse caso a instituição social oferece gratuitamente seringas descartáveis, gasta milhões nas internações hospitalares, etc, mas não se diz uma palavra que sugira responsabilidade no exercício da liberdade de comportamento.
O jovem de hoje bebe para esquecer suas frustrações pois não sabe como lidar com elas. Muitas vezes os pais não tiveram tempo ou paciência para lhes ensinar que, problema, se resolve aos poucos, através de várias tentativas, e não magicamente através do falso e traiçoeiro prazer que o álcool proporciona.
A sedução exercida pelo uso de certas drogas, atualmente, pode ser entendida como uma tentativa de encontrar um objeto externo capaz de apaziguar nossas inquietações, ou dotar-nos do poder necessário para o exercício de uma vida social satisfatória.
O problema é que quem pensa poder tratar a dor de existir recorrendo ao uso de drogas não sabe que corre o risco de trocar uma economia psíquica regida pela linguagem por outra, regida pelos instintos mais primitivos.
A busca constante por estímulos prazerosos, como alimentos saborosos, uma cerveja geladinha e a relação sexual excitante, está associada a um "sistema cerebral de recompensa", assim denominado pelo neurobiólogo americano James Olds nos anos 60. Trata-se de uma complexa rede de neurônios que é ativada quando fazemos atividades que causam prazer. Este sistema nos fornece uma recompensa sempre que fazemos determinadas atividades, levando-nos, portanto, a repetir aqueles atos. Biologicamente, ele tem uma função específica e essencial: garantir a sobrevivência do indivíduo e da espécie, ao dar motivação para comportamentos como comer, beber e reproduzir-se.
Infelizmente, não somente as funções fisiológicas normais estimulam este sistema, mas também o fazem o álcool e outras drogas de abuso, e às vezes gerando um prazer muito mais intenso do que as funções naturais.
Segundo Silvia Helena Cardoso, psicobióloga, mestre e doutora em ciências, "quando uma pessoa usa uma droga psicoativa e o efeito por ela produzido é de alguma forma agradável, este efeito adquire o caráter de uma recompensa". Estudos experimentais comprovam que todos os comportamentos que são reforçados por uma recompensa tendem a ser repetidos e aprendidos. Estudos mais recentes demonstraram que o sistema de recompensa é subjacente a drogas como morfina, heroína, cocaína, álcool e até mesmo a nicotina do cigarro.
Mas isso não é tudo. Precisamos também entender melhor os mecanismos psicológicos individuais e sociais que estão por trás do fenômeno da drogadição. Afinal, todos nós temos esses sistemas cerebrais, neurotransmissores e receptores, mas apenas alguns de nós sucumbimos ao abuso de drogas.
Existe uma diferenciação entre o usuário recreativo e o dependente de drogas. Embora a fronteira entre estas duas categorias não seja nítida, alguns elementos podem nos guiar nesta discriminação: a grande maioria dos usuários de droga não é e nunca vai ser dependente do produto; na grande maioria das vezes a droga é procurada como fonte de prazer tanto pelo usuário como pelo dependente; o dependente de drogas é um indivíduo para quem a droga passou a desempenhar um papel central na sua organização psíquica, na medida em que, através do prazer, ocupa lacunas importantes, tornando-se assim indispensável ao funcionamento psíquico daquele indivíduo.
Outro ponto fundamental a ser destacado é a especificidade da dependência humana: o ser humano busca ativamente a droga, enquanto que um animal só se torna farmacodependente através das mãos do homem. Esta constatação é importante para que o fenômeno dependência não seja, de forma extremamente simplista, reduzido a seus aspectos biológicos.
O que distingue então o usuário do dependente de drogas? O dependente é um indivíduo que se encontra diante de uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, realidade esta que não consegue modificar e da qual não consegue se esquivar, restando-lhe como única alternativa a alteração da percepção desta realidade. Esta alteração da percepção da realidade pode ser por ele obtida através do uso da droga. Se tivermos em mente que a relação de dependência com a droga é a única alternativa que restou para este indivíduo, torna-se compreensível que o comportamento de drogar-se se efetive através de um ato impulsivo. Não se trata do desejo de consumir drogas, mas da impossibilidade de não consumí-las. Para o dependente, a droga é uma questão de sobrevivência.
Do sujeito toxicômano muito se fala, mas pouco se escuta. Muito freqüentemente não se escuta o toxicômano, porque há consensos em nossa sociedade e, em geral, as diferentes instâncias que abordam a questão (escola, serviços de saúde e a justiça) não se dispõem a questionar esses consensos, resultando no ensurdecimento e no engessamento das possibilidades de escuta e de acolhimento digno. Não há muita disponibilidade para ouvir sobre suas histórias, pois os toxicômanos estão investidos de um imaginário que remete suas práticas ao gozo, à irresponsabilidade, à delinqüência e à afronta aos hábitos e costumes. O sofrimento e o mal-estar que vivem, muitas vezes, ficam invisíveis.
Quanto à abordagem da abstinência, há uma aproximação entre a redução de danos e a clínica psicanalítica, na reafirmação da importância da abstinência do lado do analista, dos nossos ideais, permitindo a escuta do sujeito toxicômano, auxiliando-o, na direção do tratamento, a posicionar-se em relação ao cuidado de si, ao cuidado dos outros, de seus atos e ao mundo em que vive.
A escuta analítica tem uma importante função na clínica das toxicomanias. Esta escuta pode abrir vias, escavar algo entre a necessidade e a demanda que vislumbre um lugar para o sujeito.
O uso e a dependência de álcool e drogas é um fenômeno complexo determinado por fatores genéticos, psicológicos e sociais.
Usa-se então as drogas para anestesiar o sofrimento e bloquear a possibilidade de sentir dor emocional. O dependente torna-se emocionalmente insensível com a drogadição, arruinando-se e a seus projetos.
O dependente não adoece por ter começado a tomar drogas; mas, por já estar adoecido existencialmente, faz das drogas uma ten¬tativa de "solução" ou "cura" de suas feridas mais íntimas.
Conhecer intelectualmente os efeitos nocivos das drogas e somente parar de tomá-las não modifica a pessoa dependente. Tratamentos destinados a apenas a desintoxicação não têm um resultado duradouro. É preciso que o dependente pare de tomar drogas para poder pensar, refletir, ou melhor, trabalhar-se, para mudar sua visão de mundo e valores, a fim de descortinar novas possibilidades de escolha, transformando seu plano suicida em projeto de vida. Sem esse trabalho interior, é muito difícil, para quem quer superar sua dependência, encontrar ou buscar respostas novas e construtivas aos proble-mas e crises da existência.
Para transformar o projeto suicida em projeto de vida, é condição funda¬mental a pessoa dependente de droga estar sinceramente disposta a trabalhar-se. Essa disponibilidade é o "fermento na massa" para o cres¬cimento pessoal e social. Sem estar autenticamente disponível ao trabalhar-se, as mudanças serão somente aparentes e temporárias.
Conforme constrói seu projeto de vida, a pessoa vai exercendo sua intersubjetividade de forma mais genuína e em direção ao semelhante, agregando-se ao tecido social saudável e forte.
O uso de droga é uma tentativa de "solução" ou "cura" para os problemas de uma existência já adoecida por um viver sem sentido na sociedade consumista. Uma droga consumida tem para o usuário, sem ele saber exatamente, o significado de um "remédio", ou melhor de um "mau remédio".
Na via do tóxico o sujeito desaparece, deixando um corpo-organismo em funcionamento. No lugar das palavras que fariam do organismo um corpo, a carne apresenta-se nua, sem a roupa da linguagem.
Para a Antropologia, a felicidade sempre esteve relacionada e imaginada como algo coletivo, fruto de uma ampla mobilização social. Hoje, com a droga, ela pode ser obtida como a singular construção de uma individualidade.
A felicidade não é produto da sorte, do destino, da herança genética ou social, nem de qualquer outra forma de determinação. A felicidade tem que ser conquistada. O homem conquista a felicidade aprendendo a aceitar e a expressar os seus desejos e sentimentos, transformando-os em vontade própria, com ela construindo seus próprios projetos de vida e empenhando-se para realizá-los.
Aceitar que tudo na vida é relativo e passageiro, que está só no mundo e que só conta consigo mesmo para realizar seus desejos, vontades e projetos.
Buscar se auto-conhecer e se auto-determinar, transformando seus desejos em vontade e sua vontade em projetos de vida.
Tornar-se responsável pelas próprias escolhas. Desenvolver a habilidade de dar respostas criativas e corajosas no sentido de expressar os seus sentimentos e de realizar a sua vontade própria.
Tornar-se autônomo: fazer pessoalmente as suas próprias escolhas e correr seus próprios riscos, assumindo o sofrimento dos erros e fracassos e o sabor dos acertos e vitórias.
Capítulo 5. Ao encontro de si mesmo
"Aos homens não basta saber que existem, mas para quê existem."
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, sobrevivente dos campos de concentração nazistas.
Segundo o psiquiatra Augusto Cury, no livro A pior prisão do mundo, "a ciência ampliou-se muito nos dias de hoje, porém não elevou o padrão de vida humana, não produziu homens maduros e experientes. Uma pessoa pode deter muito conhecimento científico, ter títulos acadêmcios, mas, ainda assim, poderá ser infantil, imatura na sua experiência de vida, não sabendo suportar nem crescer diante de suas frustrações." Segundo ele, Não é possível produzir homens maduros que sabem se conduzir se eles não aprendem a autocrítica, a pensar antes de reagir, a estabelecer limites para seus comportamentos e, principalmente, se não aprendem a desenvolver a sabedoria.
Atualmente, as psicoterapias psicodinâmicas, associadas ao uso correto dos modernos psicofármacos, desempenham importante função, devido à interdependência entre o cérebro e a mente. Sabemos que o distúrbio bioquímico não é o único, nem mesmo o principal causador dos transtornos de ansiedade ou depressivos. Há fatores emocionais, assim como a degeneração de células cerebrais, determinados por fatores constitucionais e há também os desencadeantes do dia-a-dia.
Visto que a transformação do cérebro é um processo célula a célula, a psicoterapia de orientação analítica pode, de fato, transformar significativamente a mente, mas apenas com o passar do tempo. À medida que vão sendo obtidos progressos na terapia, principalmente pela análise sistemática da transferência, o paciente começa a adquirir insight adicional e a efetuar mudanças por conta própria. A psicoterapia bem sucedida estimula a capacidade de auto análise, o que permite ao paciente concluir a terapia e continuar a progredir, ao aplicar o conhecimento adquirido em novas situações de vida que forem surgindo.
Segundo o psicanalista Charles Melman, a psicanálise permite a você se debruçar sobre os problemas reais e incontornáveis da existência. Não sobre os problemas ligados a sua infância, ao seu meio social, às neuroses em geral que interromperam seu desenvolvimento psicológico.
Augusto Cury, psiquiatra, no livro "Você é insubstituível" diz que "Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, o sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos."
O verdadeiro sentido do sintoma só o próprio paciente poderá dizer. Levar o paciente a cura, seria quem sabe colocá-lo diante da sua realidade, do próprio real que vivencia e não se dá conta.
O cérebro tem a função de gerenciar o funcionamento interno do corpo e o comportamento, ou seja, organizar os mundos interno e externo. O órgão sintetiza não só os processos propriamente ditos, mas as formas de reunir e decodificar informações, criando soluções para novas situações geradas num ambiente exigente, em constante mutação.
O desejo de encontrar um significado para a própria vida é o que faz a vida valer a pena. O homem é livre para escolher seu caminho e encontrar o sentido para sua existência. A vontade de sentido é o que move o ser humano.
Victor Frankl diz que o ser humano é livre para assumir uma postura frente à realidade que o cerca. Que todo ser humano é livre - e ninguém pode tirar do ser humano esta liberdade.
Somos livres para assumirmos uma postura frente ao mundo, mas somos responsáveis por esta escolha. Temos que assumir então, em conseqüência de nossa liberdade, a responsabilidade por tais escolhas, com as conseqüências que advêm de nossas ações. Cabe a cada ser humano perceber e superar as suas culpas. Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. "Ser um ser humano é trabalhar por algo além de si mesmo."
Suas crenças influenciam e moldam seu comportamento. Elas formam seu roteiro de vida.
Crenças são pensamentos emocionalmente cultivados sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre situações. Não se baseiam em fatos, mas em nossa percepção de eventos na época em que se formaram.
Nós somos o arquiteto que constrói nosso estado de felicidade. Quando nos depreciamos, construímos imagens feias e destrutivas em relação a nós, realizando uma construção mental a nosso respeito. Essa construção sai do plano mental e se materializa. Quem tem flexibilidade de pensamento e comportamento tem opções disponíveis. Se uma opção não der certo, pode-se tentar outra, até encontrar uma.
Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no
mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
O psiquiatra Hermano Tavares, em entrevista à revista Isto é, diz que "A psiquiatria está reduzida a dar o remédio. Mas que não basta eliminar a tristeza, é preciso ensinar as pessoas deprimidas a ter prazer." O bem-estar não é apenas tratar a tristeza, é tratar a tristeza e promover a felicidade. Ele acredita no poder que os remédios têm de equilibrar as funções cerebrais, mas considera que nenhum deles é capaz de tornar alguém feliz.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem no mundo 121 milhões de pessoas atingidas pela depressão.
Segundo Hermano, ninguém quer ter tempo para refletir sobre a vida e as mudanças que devem ser feitas. Somando-se isso as exigências feitas pelos convênios médicos e a pressa que as pessoas têm de resolver os problemas, a psiquiatria fica reduzida apenas a dar o remédio. Ele diz que, suprimir o remédio depende do esforço em melhorar a qualidade de vida.
Segundo Augusto Cury, no livro A pior prisão do mundo, "A sabedoria de um homem não está em não errar e não passar por sofrimentos, mas no destino que ele dá aos seus erros e sofrimentos. Os sofrimentos podem nos destruir ou nos enriquecer." Nesse mesmo livro ele também diz "Nunca seremos plenamente líderes de nós mesmos, nunca controlaremos todos os nossos pensamentos e emoções, mas isso não quer dizer que nossas mentes sejam um barco que navega ao sabor do vento. Podemos não controlar muitas variáveis que dão instabilidade às ondas de nossas emoções, mas podemos tomar o leme da inteligência e atingir nossos objetivos."
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, foi prisioneiro nos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Dachau por quase três anos e teve quase toda sua família dizimada pelo terror nazista. Após o término da guerra, reconstruiu sua vida, e terminou de escrever um livro cujo manuscrito havia sido destruído ao ser preso, onde conta sua experiência pessoal nos campos de concentração, e onde diz também que todo ser humano é livre para assumir uma postura frente a sua realidade, e que ninguém pode tirar essa liberdade. Mas diz também que essa liberdade deve ser precedida pela responsabilidade.
Ao aceitar as próprias falhas, planejamos mudanças para não repetir o erro e exercemos o poder de nos perdoar.
Liberando a culpa de nossa consciência, nossos erros e doenças vão diminuindo.
Costuma ser mais feliz quem consegue encontrar um significado para a vida. Esse significado pode estar em qualquer coisa – da filatelia à filantropia. Mas é na religiosidade que a maior parte da população vai buscar essa razão de viver. E encontra. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, em média, mais felizes do que as não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos ansiedade e índices menores de suicídio.
James Allen e Ricardo S. Marques, no livro Você é aquilo que você pensa, dizem que, "A circunstância não faz o homem; ela o revela a si próprio". Não existem condições como cair no vício e seus respectivos sofrimentos se não por inclinações viciosas, ou ascender à virtude e sua pura felicidade se não pelo cultivo contínuo de aspirações virtuosas. E o homem, portanto, como o Senhor e mestre do pensamento, é o construtor de si próprio, o modelador e autor do seu meio.

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OS MALES DA VIDA MODERNA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA – parte 1/2


Gilson Tavares (psicanalista e educador)








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