A ANGÚSTIA E O IMPULSO À MUDANÇA

 

Segundo alguns filósofos, nós nascemos na angústia e morremos na angústia.
Talvez não exista um sentimento tão marcante quanto a angústia, uma vez que ela pode está presente em quase todos os outros sentimentos: como o medo, a ansiedade, o estresse, e até em sentimentos bons como o amor, a angústia pode está presente, em forma de ciúme, saudade ou medo da perda.
A angústia nos acompanha por toda nossa história de vida. Vivemos angustiados no trabalho e na falta dele, na escola, nos relacionamentos, no trânsito, com nosso futuro, etc.
A angústia, junto com a ansiedade, constituem a maior parte de nossos sofrimentos, e talvez, sejam a maior causa de busca aos consultórios de psicólogos e psicanalistas, que têm a função de ajudar o paciente à nomear as suas angústias, a encontrar as suas verdadeiras causas, para assim, poderem lidar com elas.
Para o psicanalista francês Jacques André, professor da Universidade de Paris, a angústia é o motor da análise. O que mostra a dimensão da importância da angústia para que o indivíduo busque soluções para seus problemas.
Freud já dizia que, quando a angústia de não buscar mudanças é maior do que a angústia de buscá-las, a pessoa muda. Então, podemos dizer que a angústia tem um papel importante também como impulsionadora de mudanças de vida.
Segundo algumas correntes da filosofia, que é a ciência que primeiro se preocupou com o ser humano e com seus sentimentos, a angústia se caracteriza pelo desprazer nascido da expectativa de algo ruim, desagradável ou doloroso que está para acontecer. É a quase certeza que inevitavelmente algum mal está por vir.
A angústia é um sentimento que se confunde com o medo. O medo, por definição, é um estado emocional resultante de um perigo ou de uma ameaça, reais ou imaginários.
Talvez, o que diferencia a angústia do medo seja que: o medo, mais que um sentimento, é um processo, desenvolvido no longo processo de evolução da espécie humana, e que tem como função proteger o indivíduo de perigos e ameaças. Enquanto que, a angústia, talvez seja o sentimento propriamente dito, despertado pelo processo do medo.
Pensando no medo como um processo evolutivo, podemos perceber que ele não é exclusivo da espécie humana. Uma vez que, toda criatura foge, e até cria mecanismos os mais mirabolantes, quando enfrenta alguma situação de ameaça.
Já a angústia, podemos pensar que seja exclusiva da espécie humana, uma vez que não vemos nenhum outro animal que sofra diante de uma situação que não seja uma ameaça concreta. Mas, até que ponto isso é verdadeiro?, pois, que nome poderíamos dar à um sentimento que leva um animal a sentir a ausência do seu dono, sentimento que até já levou alguns animais à morte por inanição. Não seria angústia o nome mais adequado para esse sentimento?
A angústia está tão presente nos outros sentimentos, que o próprio Freud, pai da psicanálise, já dizia ser a angústia a matriz de todos os afetos, de todos os sentimentos. E podemos pensar que até bons sentimentos, como o amor por exemplo, nasce da angústia, pois, se formos analisar, veremos que o amor nasce da falta, então, consequentemente, da angústia provocada pela falta, nasce o impulso que leva o indivíduo à buscá-lo.
Muitas vezes, semelhante à síndrome do pânico, quando se sente medo de ter medo, na angustia, nos angustiamos apenas pelo fato de nos angustiarmos diante das dificuldades da vida.
Então, que destino podemos dar à angústia?
Se não podemos fugir dela, podemos aprender a conviver com ela. Sabendo que a angustia também pode ser o motor das mudanças.
A angústia serve para nos alertar para as mudanças que devemos procurar colocar na nossa vida, para os caminhos que devemos procurar trilhar. E principalmente, para que tenhamos a oportunidade de crescer como pessoa, aprendendo a buscar formas saudáveis e maduras de enfrentar as dificuldades que certamente aparecem na vida de todos.
Quando não enfrentamos as nossas angústias de forma madura e corajosa, as mesmas podem transformar-se em fobias, que é o medo exagerado diante da ameaça irreal de coisas ou situações; em síndrome do pânico, que é quando passamos à ter medo até do próprio medo e passamos à desenvolver doenças psicossomàticas, transferindo para o corpo as dores da alma.
O ideal é que, diante dos sofrimentos provocados pelo sentimento de angústia, o indivíduo busque um tratamento medicamentoso para cuidar dos sintomas fisiológicos, resultado das suas angústias, mas busque também um tratamento com um psicólogo ou psicanalista, para trabalhar o seu desenvolvimento emocional, fazendo com que  ele reflita e traduza seus pensamentos e sentimentos, aprendendo a lidar melhor com as suas emoções e a enfrentar de forma mais madura os seus conflitos.
Podemos tirar lições positivas da angústia. Ninguém fica angustiado se tudo está bem em sua vida. Então, se há angústia é porque algo não vai bem, e é hora de parar, olhar para sí mesmo e perceber as mudanças que precisa promover na sua vida: que sejam mudanças no âmbito profissional, talvez mudar de emprego, se não está feliz com o que faz; talvez participar de um curso, se sente necessidade de buscar um crescimento intelectual; talvez buscar mudanças na sua vida familiar ou pessoal.
E você, que destino dar às suas angústias? Um abraço e até a próxima edição.

Gilson Tavares
Psicanalista Clínico, Desenvolvimento de Pessoas e Treinamento Comportamental


Um comentário:

  1. Sou pastor e Psicanalista clinica e terapeuta de casais.
    Muito bom o seu blog. Um conteúdo riquíssimo!
    acesse o nosso blog também: www.psicanaliseemacao.blogspot.com.br

    ResponderExcluir