As crenças e a percepção da realidade

 

Você sabia que a realidade não é percebida da mesma forma por todas as pessoas?

Você sabia que as crenças de uma pessoa tem grande influência na forma como ela enxerga o mundo e a realidade?

E você sabia que a forma como uma pessoa enxerga o mundo e a realidade tem total influência na forma como ela age no mundo e na forma como ela reage às situações surgidas no seu caminho?

E então - Você sabe como as suas crenças influenciam na sua percepção da realidade e na sua percepção do mundo ao seu redor?

Você sabe como a sua percepção de mundo tem influenciado as suas atitudes e a forma como você tem reagido às situações, as necessidades e as exigências do mundo ao seu redor?

Essas são algumas perguntas simples e com algum grau de complexidade ao mesmo tempo, mas que são bastante relevantes para a compreensão do comportamento humano.

Porque podem trazer alguma luz para a compreensão de alguns comportamentos que observamos em diversos grupos de pessoas , que mesmo diante de uma situação de elevado risco, inclusive risco de morte, para si mesmo e para todos do seu convívio,  como é o caso que estamos vivenciando agora, enfrentando a empidemia da Covid19, insistem em agir de forma irresponsável e inconsequente, se colocando em risco e colocado todos em risco.

Em que acreditam essas pessoas?

Quais são as suas crenças?

Não estou falando em crenças no sentido religioso. Até porque, no sentido religioso, toda crença é válida, desde que contribua para que o indivíduo construa formas equilibradas de conviver consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.

O perigo das crenças religiosas é quando a crença se transforma em fanatismo e a pessoa passa a agir desprezando o bom senso, o sentido crítico, a razão, a ciência  e muitas vezes até desprezando o direito do outro de ter as suas próprias crenças.

Mas não é dessa crenças que quero falar nesse momento, e sim, em que acreditam essas pessoas que se expõem e expõem aos outros, desprezando todas as evidências e todas as provas, repetidas sumariamente até de forma dramática, confirmadas pelas milhares de mortes diárias, muitas inclusive de seu próprio convido ou até de seus próprios familiares, e nem assim mudam o seu comportamento?

As chamadas fake news, ou notícias falsas, são usadas atualmente de forma deliberada, irresponsável e até criminosa, espalhando informações falsas a respeito da pandemia, propagando falsos tratamentos precoces, menosprezando a importância dos cuidados na prevenção e até menosprezando a importância e a necessidade da vacinação em massa.

Mas, essas fakenews só têm esse poder de influenciar o comportamento de milhares ou de milhões, porque encontram terreno fértil para a sua reprodução e propagação.

Porque encontram pessoas que já estão predispostas a acreditarem nessas notícias falsas, pessoas que já têm as suas crenças formadas e enraizadas, balizadas em suas próprias convicções, e sendo assim, essas notícias falsas apenas confirmam aquilo no que essas pessoas já acreditavam.

O sistema de crenças de uma pessoa tem tanto poder na forma da pessoa percebe e interpretar o mundo, influenciando assim o seu comportamento, que certamente tem grande participação em inúmeros exemplos que temos visto cotidianamente, tanto nos meios de comunicação, quanto também nas nossas próprias experiências.

Como por exemplo:

Pessoas que continuam participando ou promovendo encontros festivos ou comemorativos, acreditando que estão apenas burlando o sistema e as Leis, mas estão na verdade enganando a si mesmo e a todos os que dele se aproximam, promovendo dessa forma uma cultura de desprezo pelo outro e pela vida.

A total falta de empatia e de respeito ao próximo, quando temos visto tantos que insistem em não fazer uso da máscara em ambientes públicos.

Eu mesmo, há alguns dias, precisei ir em um estabelecimento da cidade, e lá encontrei todos lá de máscara, apenas um cidadão que fazia questão de mostrar que estava sem máscara, e quando confrontado por um funcionário do estabelecimento, o cidadão fez questão de se comparar com um conhecido político que faz campanha a favor do vírus, dizendo o cidadão que era igual a ele – grosso, ignorante e sem papas na língua.

Concluindo que não era um maricas para usar máscara, nem ao menos se importando com alguma possível reação de algum dos presentes, todos usando a máscara.

Saí do estabelecimento pensando, como alguém pode sentir orgulho em ter um comportamento tão estúpido e irresponsável.

E então pensei -, no que acredita esse cidadão?

Será apenas arrogância?

As pessoas que agem assim, realmente acreditam que são superiores? 

Diante desse cenário, percebemos que não apenas vivemos uma pandemia do vírus covid19, mas vivemos também muitas outras pandemias:

Pandemia da falta de empatia

Pandemia da falta de respeito ao outro e pelo outro

Pandemia da falta de respeito a vida

Pandemia da falta do bom senso e do pensamento crítico

Pandemia da valorização de fanatismos e ideologias acima da ciência e da realidade vivida

Pandemia da intolerância e da estupidez

Pandemia do extremismo

Para vencer a pandemia do Corona vírus já existe uma luz no fim do túnel.

Mesmo de forma muito mais lenta do que o País precisa, mas a vacinação já acontece.

Para enfrentar as outras pandemias, muito ainda tem que ser feito.

E certamente, só poderemos ter sucesso nessa luta quando investirmos mais em educação, não na educação que forma apenas mão de obra, mas na formação que forma o cidadão, com noção da sua importância para o mundo onde vive, com noção de empatia e respeito pelo outro, com noção do bem comum e com noção da importância das suas atitudes para a construção da sociedade onde vive.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Até a próxima publicação.

 

 

 

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