Nas publicações anteriores, fizemos aqui uma tentativa de reflexão sobre o fenômeno da agressividade e da violência nos dias atuais.
Hoje, vamos refletir um pouco sobre um fenômeno chamado de Mente Grupal. Fenômeno estudado pela psicologia social e que procura entender como age o indivíduo dentro de um grupo e de como o grupo influencia o comportamento do indivíduo.
Para procurar entender um pouco sobre como isso acontece, vamos ter como base os estudos de Gustave Le Bon. Gustave Le Bon foi um psicólogo social francês do século 19. Considerado o pai dos estudos sobre a psicologia das multidões, Le Bon acreditava que a busca da compreensão da psicologia da multidão era essencial para a compreensão da história e para a compreensão da natureza humana.
Gustave Le Bon, além de psicólogo social, também fez diversos estudos nas áreas da antropologia, da psicologia, da sociologia, da medicina e da física. Tudo com o objetivo de compreender a mente humana. Principalmente compreender como o indivíduo se comporta em grupo.
O trabalho mais importante de Gustave Le Bon, A multidão: Um estudo da mente popular, publicado em 1895, é considerado até hoje como um dos trabalhos mais importantes para a psicologia das multidões.
Segundo ele, o indivíduo, quando fazendo parte de um grupo, adquire um sentimento de invencibilidade, resultado da crença no anonimato que o grupo lhe garante.
Gustave Le Bon mostra com seus estudos que as massas, as multidões, os grupos, são, antes de tudo, um fenômeno social. E que, para compreender o comportamento, a ação e a influência desse fenômeno na sociedade, ou seja, para compreender o comportamento, a ação e a influência das massas, dos grupos, na sociedade, é necessário, não apenas o olhar do direito, da economia e da política, mas principalmente o olhar da sociologia e da psicologia.
Le Bon afirma que, para entender o comportamento do indivíduo em um grupo, se faz necessário a concepção de que, ao fazer parte de um grupo organizado, geralmente, o indivíduo desce vários degraus na escala da civilização.
Sendo assim, isolado, de forma individual, o indivíduo pode ser uma pessoa culta, equilibrada nas suas ações, porém, ao fazer parte de uma multidão, ao fazer parte de um grupo, esse mesmo indivíduo pode tornar-se um bárbaro, ou seja, um indivíduo que age regido apenas pelos seus instintos. Sendo capaz de cometer atos de agressividade e de violência, semelhante aos seres primitivos.
Para Le Bon, o indivíduo, ao fazer parte de um grupo organizado, sofre uma redução na sua capacidade intelectual, sofrendo assim maior influência do grupo.
Le Bon diz que, um grupo, quase sempre, é levado por uma espécie de inconsciente coletivo. E que, os impulsos que leva o grupo a agir, podem, de acordo com as circunstâncias, levar o grupo a ter atos de generosidade, atos de solidariedade e até atos de heroísmos. Mas que pode também levar o grupo a ter atos de crueldade, atos de agressividade, atos de violência. E que, essa espécie de inconsciente coletivo, criado no grupo, fica acima de qualquer interesse pessoal, até mesmo acima dos valores pessoais e da autopreservação, o que explica algumas atitudes extremistas de indivíduos, quando agem em nome de grupos, sacrificando até mesmo as suas vidas.
Para Le Bon, o que justifica a comparação da mente grupal com a mente de povos primitivos, é o fato de que ideias, pensamentos ou suposições totalmente contraditórios, podem existir lado a lado, sem que nenhum conflito ou juízo de valor seja feito, sem que nenhuma lógica seja encontrada em tal ideia, pensamento ou suposição.
Le Bon diz também que um grupo está sempre sujeito ao poder das palavras. Que as palavras, quando utilizadas em concordância com as ideias preconcebidas pela mente coletiva criada no grupo, não passam pelo crivo da razão ou da lógica, para serem aceitas como palavras verdadeiras e valiosas, e para tornarem-se, quase que de forma automática, em ordens à serem seguidas pelos indivíduos do grupo.
E é por essa razão, que quando em grupo, o indivíduo, geralmente, despreza o senso crítico, e não leva em consideração se tal ideia, pensamento ou palavra, realmente trata-se de algo verdadeiro ou não. O mais importante é que essa ideia, pensamento ou palavra esteja de acordo com os ideais do grupo e que tenha um apelo emocional forte.
Para ele, os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados, de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza. E que, quem quiser produzir influência em um gripo, ou seja, manipular um grupo para agir em seu beneficio, não necessita de nenhum argumento lógico ou consistente, basta apenas apresentar palavras que estejam de acordo com os ideais do grupo, colocar apelo emocional nas ideias apresentadas, exagerar nas ideias apresentadas e repetir as mesmas ideias diversas vezes. Isso manterá o grupo em constante ligação com tais ideias e manterá os indivíduos que fazem parte do grupo sempre dispostos a se engajarem cegamente, para atenderem aos apelos daquele que souber usar as palavras certas.
Penso que a abordagem desse tema é importante para que cada um possa olhar para si mesmo e verificar, caso faça parte de algum grupo, seja qual for a finalidade do grupo, como está sendo a sua atuação, enquanto indivíduo e enquanto membro do grupo. E principalmente, poder refletir sobre como está sendo influenciado pela mente coletiva do grupo e refletir sobre o que deve fazer para manter a sua própria personalidade e os seus próprios valores pessoais.
Como esse é um tema bastante extenso, e também bastante interessante, não apenas para a compreensão da história e da sociologia, mas principalmente para a compreensão da realidade da atualidade, voltaremos a abordar esse tema no nosso próximo encontro.
Gilson Tavares
Psicanalista Clínico e Organizacional
Administrador, Especialista em gestão de pessoas
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