Na postagem anterior, abordamos aqui sobre a questão da Mente Grupal e os comportamentos extremistas, segundo o psicólogo social francês Gustave Le Bon.
Gustave Le Bon é considerado o pai dos estudos sobre a psicologia das multidões. Acreditava que a busca da compreensão da psicologia da multidão era essencial para a compreensão da história e para a compreensão da natureza humana.
O trabalho mais importante de Gustave Le Bon, A multidão: Um estudo da mente popular, publicado em 1895, é considerado até hoje como um dos trabalhos mais importantes para os estudos que procuram compreender o comportamento das multidões, dos grupos, das massas.
Como falei na semana passada, acredito que a abordagem desse tema é importante para que cada um possa olhar para si mesmo e verificar, caso faça parte de algum grupo, seja qual for a finalidade do grupo que você faça parte, que seja de forma presencial ou online, que você possa analisar como está sendo a sua atuação, enquanto indivíduo e enquanto membro de um grupo. E principalmente, para que você possa refletir sobre como está sendo influenciado pela mente coletiva criada no grupo e possa refletir sobre o que pode e deve fazer para manter a sua própria personalidade, os seus próprios princípios e valores pessoais, e não se deixe manipular, não virar massa de manobra.
Os seres humanos, aliais, como quase todos os outros seres vivos que existem no planeta também, os seres humanos, desde os seus primórdios, quando ainda viviam coletando frutas, caçando, fugindo de predadores, os seres humanos procuram viver em grupos.
Por várias razões, inclusive porque em grupos, torna-se mais fácil a sobrevivência.
Assim nasceram as tribos, nasceram as vilas, nasceram as cidades, nasceram as nações.
Como também, além da necessidade da formação de grupos para caçar, para se protegerem de predadores, para enfrentar grupos rivais e para se protegerem de ameaças diversas, os seres humanos também sempre sentiram necessidade de formar grupos por afinidades ou por interesses em comum.
É aquela velha máxima de que “juntos somos mais fortes”.
O que é verdade. Um grupo organizado de pessoas tem muito mais força para defender uma ideia ou uma causa, do que um indivíduo ou do que indivíduos isolados.
E isso é a essência da formação da mente grupal. Quando uma quantidade de pessoas se unem em torno de uma necessidade, em torno de uma ideia, em torno de uma causa, e assim, nasce uma espécie de inconsciente coletivo, que passa a, de forma subjetiva, ou seja, como se fosse criado leis não escritas, mas que precisam ser seguidas, e essas leis passam a direcionar as ações dos indivíduo no grupo, e muitas vezes, essas leis não escritas passam a direcionar as ações dos indivíduos até mesmo fora do grupo e até pode direcionar os seus pensamentos.
E é essa a razão que explica o fato de que, muitas pessoas, ao fazer parte de algum grupo, seja qual for a finalidade desse grupo, a pessoa passa como que a viver em função do grupo, dos interesses do grupo, dos ideais pregados pelo grupo. Principalmente quando os ideais do grupo estão de acordo com os seus próprios ideais.
E é por essa razão que, como já falamos na semana passada, um indivíduo, quando em grupo, geralmente despreza o senso crítico, não leva em consideração se uma ideia, um pensamento, um ideal ou uma palavra, realmente trata-se de algo verdadeiro ou não. O mais importante é que essa ideia, esse pensamento, esse ideal ou essa palavra esteja de acordo com os ideais e os interesses do grupo.
Le Bon diz também que, sempre que um número de pessoas se unem e formam um grupo, em função de alguma afinidade em comum , ou sempre que uma pessoa se une à um grupo já existente, geralmente, instintivamente, o grupo como entidade e cada um dos indivíduos se colocam sob a influência de um líder, ou de um chefe, que vai ditar, de forma direta ou de forma subjetiva, a atuação do grupo e dos indivíduos que formam o grupo.
E ainda segundo Le Bon, quanto maior for a relação entre os ideais e os interesses do líder e os ideais e os interesses do grupo, maior também é a admiração dos indivíduos do grupo em relação ao líder e maior também é a chance de que o líder seja seguido cegamente por seus liderados, de forma totalmente obediente e sem questionamento algum.
Muitas vezes, até deixando totalmente de lado o senso crítico, o bom senso e o raciocínio lógico.
Isso é o que caracteriza o que na sociologia e na psicologia é chamado de mente grupal. Quando o indivíduo perde, de certa forma, a capacidade de avaliar as suas ações, e passa a ser guiado pelo inconsciente coletivo criado em algum grupo que faça parte.
Isso também explica porque um indivíduo que de forma isolada é uma pessoa pacata e equilibrada, quando em grupo, pode ser capaz de atos extremistas e até ser capaz de atos de violência.
O ser humano é um ser essencialmente social.
Como já dizia o pensador russo do início do século passado Vygotsy, todo ser humano se constitui um SER pelas relações que estabelece com os outros seres humanos.
Ou seja, precisamos do outro, precisamos da relação com o outro para sermos humanos.
E por esse precisar da relação com o outro para se constituir um SER, buscamos outros que pensem como nós, buscamos outros que tenham as mesmas afinidades que nós, buscamos outros que tenham a mesma visão de mundo que nós, e formamos grupos.
Assim nascem as associações, assim nascem os grupos de serviços, assim nascem as igrejas, assim nascem os clubes, assim nascem os partidos políticos, assim nascem as correntes de pensamentos.
Assim nascem também as seitas. Assim nascem também as conspirações. Assim nascem também as correntes ideológicas.
Precisamos está sempre vigilantes.
Principalmente, precisamos está sempre vigilantes em relação à nossa saúde mental e emocional, para que sejamos envolvidos em alguma corrente de pensamento que ameace o nosso equilíbrio, alguma corrente de pensamento que ameace a nossa saúde mental e emocional.
Gilson Tavares
Psicanalista Clínico e Organizacional
Administrador, Especialista em gestão de pessoas
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