Estamos iniciando o mês de setembro. Há algum tempo também chamado de setembro amarelo.
Por que essa denominação “Setembro Amarelo”?
Essa denominação, setembro amarelo, nasceu em razão de ações desenvolvidas com o objetivo de chamar a atenção para um ato considerado tabu em todas as culturas. Um ato que todos têm muito receio em abordar qualquer conteúdo a respeito ou qualquer tentativa de encontrar razões para esse ato, pela dor e pelo sofrimento que são produzidos como resultado desse tal ato.
Estamos falando do suicídio.
O termo “setembro amarelo”, foi criado exatamente como uma oportunidade para discussões e reflexões sobre esse tema tão dolorido para tantas famílias, e exatamente por esse motivo, também tão importante para ser buscado alguma luz sobre esse assunto.
Principalmente, buscando colocar alguma luz sobre esse assunto, com o objetivo de buscar formas de se prevenir esse ato tão extremista e tão difícil de se falar sobre o mesmo.
O mês de setembro, e também a cor amarela, foram escolhidos para representar essa campanha em favor da vida, fazendo uma referência e também uma homenagem, aos familiares e amigos de um jovem de 17 anos, dos Estados Unidos, Mike Emme, que cometeu suicídio em setembro de 1994, e, como uma forma de apoio à pessoas que também estivessem passando por problemas emocionais, seus familiares e amigos decidiram distribuir, no dia do velório do jovem, cartões amarrados em fitas amarelas, com frases de apoio emocional. A cor amarela foi escolhida porque o jovem tinha um Mustang amarelo.
O suicídio, além de deixar uma grande ferida nas famílias que perdem um de seus membros através dessa prática, além da dor que causa aos familiares, onde muitos não conseguem superar esse trauma, torna-se também uma questão de saúde pública.
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que, por ano, mais de um milhão de pessoas tiram a própria vida em todo o planeta. No Brasil, São registrados mais de doze mil suicídios por ano.
A iniciativa Setembro Amarelo é uma conversa aberta com a participação de toda a sociedade, é uma grande ação conjunta de diferentes esferas da sociedade, que visa levar conscientização e informação para todas as pessoas, possibilitando prevenir novos casos de suicídio por meio da educação, do conhecimento, do apoio, do acolhimento.
Essa é uma campanha muito importante e significativa, porque envolve ações de pessoas, envolve ações de entidades, envolve ações de órgãos de saúde, envolve ações de empresas, todos com o mesmo objetivo.
A campanha setembro amarelo vem sendo desenvolvida desde o ano de 2015 e tem o foco principal no cuidado com a saúde mental de pessoas de todas as classes sociais e de todas as faixas etárias.
Muitos ainda têm o pensamento de que uma pessoa que desiste da sua própria vida não tem coragem para viver e por isso prefere desistir da vida. O que não é uma verdade. A campanha Setembro Amarelo coloca luz sobre esse tema e traz mais conhecimentos sobre como lidar com essa questão.
O Setembro Amarelo contribui para que se consiga identificar os sinais de quem está passando por momentos difíceis, o modo correto de abordar essas situações delicadas e como evitar que uma pessoa chegue a esse estágio de desespero.
Problemas como estresse, depressão, uso descontrolado de substâncias psicoativas e até mesmo o assédio em função do bullying, geram grandes abalos para a saúde mental do indivíduo. Quem se suicida não quer necessariamente desistir de viver, mas sim, quer se livrar da dor e dos problemas para os quais não encontra uma saída.
Segundo a Dra. Ana Beatriz Barbosa, psiquiatra de grande conhecimento e muita experiência em lidar com essa questão, entre tantas outras questões relacionadas ao sofrimento humano, 90% dos suicídios são ou poderiam ter sido evitáveis.
Diante de um suicídio, sempre procurarmos uma explicação, uma razão para esse ato tão extremo.
Porém, é muito difícil encontrar uma razão. Nunca é o caso de se fazer um julgamento. A pessoa teve a sua razão. E a causa sempre tem múltiplos fatores.
No entanto, as principais causas de suicídio estão relacionadas à transtornos psiquiátricos, como a depressão, a ansiedade, a esquizofrenia e o uso de substâncias psicoativas.
A Organização Mundial de Saúde calcula que mais de 90% dos suicidas tenham algum problema mental, muitas vezes não diagnosticado.
36% dos suicidas são portadoras de algum distúrbio do humor – principalmente a bipolaridade. Grande Euforia seguida de quadro profundo de depressão.
24% dos suicidas são usuários de alguma substância psicoativa – de algum tipo de droga.
Em torno de 10% dos suicidas têm algum grau de esquizofrenia.
Em torno de 12% dos suicidas têm algum grau de transtorno borderline.
Segundo o psiquiatra Neury Botega, professor da Unicamp, o suicídio, além de ter múltiplas causas, afeta pessoas de todas as idades e classes sociais. E tem como principais causas o sentimento de desesperança, o sentimento de desamparo e o sentimento de desespero, além da impulsividade.
Para o filósofo, escritor e professor universitário Mário Sérgio Cortella, o suicídio é uma solução definitiva para uma situação provisória.
Acontece quando se perde a capacidade de enxergar o todo e tem o foco apenas em uma situação presente, em um problema de aparente não solução, quando o indivíduo não consegue enxergar além do que está vivendo naquele momento.
Em uma coisa todos os que lidam com o sofrimento humano concordam, o suicídio é um ato de desespero, um ato impulsivo ou um ato premeditado.
É uma tentativa de acabar com um sofrimento que no momento é visto como insuportável. Por acreditar que o que está passando não tem solução.
Fora isso, o suicídio pode também ter como causa atos ligados ao fanatismo.
O suicídio não é falta de Deus.
O suicídio não é falta de valorização do que se tem ou do que se conquistou na vida.
O suicídio não é falta de valorização das pessoas, da família ou dos amigos.
A tristeza é normal, faz parte da vida. Todos nós temos nossos momentos de tristeza diante das situações difíceis que todos sofremos ao longo da vida e diante das perdas, que também são inevitáveis, todos sofremos.
Ninguém passa pela vida sem ter os seus momentos de sofrimentos.
A depressão não. A depressão é uma patologia, e precisa ser cuidada.
Viver não é fácil, mas é necessário. Só podemos enfrentar e só teremos chances de superar os desafios da vida se estivermos vivos.
A depressão não necessariamente leva ao suicídio ou ao pensamento a respeito do suicídio, mas é um sinal de alerta, dependendo do prejuízo que está causando na vida da pessoa.
Atualmente, a mídia e a sociedade quase que impõem nas pessoas a obrigação de ser feliz, e de ser feliz o tempo todo. Quando todos sabemos que isso é totalmente impossível. E isso também é uma questão que precisa ser discutida.
A questão do suicídio, principalmente a busca da prevenção do suicídio e a questão da saúde mental é uma questão que precisa ser bastante discutida e que precisa ser vista como prioridade, principalmente entre os jovens e adolescentes, que estão aprendendo a construir as suas vidas e que enfrentam tantos desafios na caminhada para ser tornarem adultos equilibrados e felizes.
Na próxima crônica vamos voltar á esse assunto, que tem muitas considerações que precisam ser abordadas, como também precisamos falar sobre alguns sinais de alerta e alguns cuidados importantes para lidar com a questão do suicídio.
Mas vou deixar aqui o número do CVV – Centro de Valorização da Vida, que realiza apoio emocional e de prevenção ao suicídio.
Através do número 188, o CVV atende 24 horas por dia, 7 dias da semana, recebendo todos aqueles que estiverem passando por um momento de desespero e que estão precisando ser escutados e acolhidos no seu sofrimento.
Gilson Tavares
Administrador, Especialista em gestão de pessoas
Psicanalista Clínico e Organizacional
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