Assumindo o controle

 

Já falei aqui, em ocasiões anteriores, que não somos totalmente donos dos nossos sentimentos, dos nossos pensamentos e das nossas atitudes. Que, de acordo com estudos comportamentais, nosso cérebro decide de forma quase automática as nossas ações e reações, diante dos desafios enfrentados.

Mas falei também que esses estudos não tiram as responsabilidades que temos sobre as nossas ações. Uma vez que, para que o nosso cérebro tome as suas decisões, ele tem como matéria prima para os pensamentos, os sentimentos e as ações possíveis, as informações que consumimos, os valores que construímos e as experiências que vivenciamos. Trazendo de volta a nossa total responsabilidade sobre os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e as nossas atitudes.

E sendo assim, novamente, como podemos contribuir para assumir o controle sobre os nossos pensamentos, sobre os nossos sentimentos e sobre as nossas atitudes? Se é que isso é possível.

Claro que não posso dizer que isso é uma tarefa fácil. Nem mesmo posso dizer que é uma tarefa possível. Assumir o controle sobre a própria vida, assumir o controle sobre os próprios pensamentos, sentimentos e atitudes.

Mas podemos, pelo menos, encontrar formas de lidar com nossos pensamentos, formas de lidar com nossos sentimentos, formas de lidar com as nossas escolhas e com as nossas atitudes, de forma mais equilibrada, mesmo diante de momentos de desafios, diante de momentos de adversidades.

Primeiro, quero chamar atenção para um dos pilares da escola filosófica conhecida como estoicismo, fundada no século quatro antes de Cristo, em Atenas, segundo o qual, não são os acontecimentos que perturbam as pessoas, e sim, os seus julgamentos a respeito dos acontecimentos.

Esse pensamento, já tão antigo, confirma o que sabemos hoje. Que o nosso olhar e o nosso julgamento, diante de qualquer acontecimento, faz toda a diferença na forma como vamos reagir em relação ao acontecimento e faz toda a diferença nos resultados que vamos obter com as nossas atitudes.

Vivemos em um mundo de muitas incertezas, um mundo de muitos desafios, um mundo de muitas provocações. Como manter o equilíbrio diante desse mundo tão desafiador? Como manter algum controle sobre nós mesmos e sobre a nossa vida nesse mundo cheio de provocações?

Primeiro é aprender a identificar o que não está sobre o nosso controle. Geralmente, temos o desejo de controlar tudo ao nosso redor, mas nem sempre isso é possível. Encontrar um equilíbrio é essencial. Equilíbrio para saber sobre o que e como se deve agir, para manter o controle sobre a própria vida. Equilíbrio para saber sobre o que não se tem muito o que fazer. Equilíbrio para saber lidar com o que não se tem como agir. Equilíbrio para lidar com o que não se tem controle.

Importante saber que, mesmo diante de algo ou diante de algum acontecimento, que não se tem como controlar, mas a forma como vamos responder a esse algo ou a esse acontecimento, é de nossa inteira responsabilidade.

Podemos não ter controle sobre algo ou sobre algum acontecimento, mas podemos, e devemos, ter controle sobre a forma como agimos, ter controle sobre a forma como reagimos, mesmo diante de algo ou diante de algum acontecimento, que não temos controle sobre ele.

Não temos controle sobre os acontecimentos, mas temos controle sobre a nossa reação diante dos acontecimentos.

O que pode contribuir para buscar formas equilibradas de responder a acontecimentos que não se tem controle é enxergar os acontecimentos como desafios a serem superados, enxergar os acontecimentos como oportunidades para o crescimento pessoal, enxergar os acontecimentos como caminho de evolução.

Saber que, inevitavelmente, a vida é feita de constantes mudanças, inclusive de perdas, é uma forma de está preparado para lidar com os momentos difíceis, que exigirão mais equilíbrio e mais resiliência, para aceitar a vida como ela é, e muitas vezes, até para recolocar a vida de volta nos seus trilhos.

Nesse quesito, mudanças e perdas, se faz necessário inclusive saber que, não tem nada que você possa fazer para assegurar que não seja atingido ou atingida pelas circunstancias da vida. Não existe nada que você possa fazer que possa assegurar que não aconteça mudanças e perdas na sua vida.

Mas é importante também viver o presente. Não permitir que acontecimentos do passado ditem a sua forma de viver no presente. E também não permitir que as preocupações com o futuro lhe tirem o prazer de viver o presente.

Planejar sim. Se preparar para enfrentar os desafios que poderão, e que certamente irão surgir, é necessário. Até porque, quanto mais preparado estiver, melhor irá superar os desafios.

Porém, não se pode permitir que as preocupações com o futuro impeçam de viver o presente da melhor forma possível.

Necessário, e essencial, aprender a praticar o olhar positivo. Aprender a enxergar não apenas pontos negativos, diante dos acontecimentos, mas buscar o que de positivo possa ser encontrado nos acontecimentos. Mesmo que seja apenas a oportunidade de crescimento pessoal.

Importante também aprender a olhar a existência como um todo. A vida é feita de momentos, mas a vida não é apenas esses momentos. A vida é um todo. A vida é um dia depois do outro.

Não temos controle sobre a vida. Mas podemos ter o controle sobre como vivemos a vida.   

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

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