A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE E OS DESVIOS DA CONDUTA

A palavra personalidade tem origem no termo latino persona, que significa máscara. A personalidade é então o conjunto de padrões duradouros do comportamento do indivíduo face à multiplicidade de situações. A personalidade encerra aquilo que torna o indivíduo diferente de todos os outros. A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da nossa vida e é um processo dinâmico em que intervêm diferentes fatores.
As teorias da personalidade são tentativas de interpretar, descrever e explicar o modo como os indivíduos se distinguem no seu estilo geral de comportamento, naquilo que os torna únicos e por isso os distingue. Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de nos tornar únicos em nossa maneira de ser e de desempenhar nosso papel social.
A influência da hereditariedade, do meio social e das experiências pessoais têm uma grande importância no comportamento e desenvolvimento dos seres humanos. No entanto, a influência desses fatores é diferente em cada indivíduo e nas fases diferentes do ciclo de vida.
O patrimônio genético do ser humano define sua singularidade fisiológica e morfológica. A hereditariedade humana transmite traços específicos não só de natureza física, mas também de temperamento de base e também nos dons intelectuais.
Ao lado das Tendências Naturais, capazes de identificar todos nós como pertencentes à mesma espécie, vamos encontrar as peculiaridades próprias e particulares com as quais cada um se apresentará e se relacionará com o mundo. Estas diferenças funcionais de cada um através de suas considerações sobre os TRAÇOS PESSOAIS, verdadeiros arranjos pessoais e constitucionais determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor intensidade, resultariam numa característica psíquica capaz de particularizar um indivíduo entre todos os demais de sua espécie.
Entende-se os traços herdados como possibilidades de vir a ser e não como uma certeza de que será. Há uma quantidade enorme ainda pouco delimitada pela genética, de traços possíveis de transmissão hereditária, porém, apenas parte desses traços se manifestarão no indivíduo. Esta maneira singular da pessoa interagir com seu mundo, decorrente de seus traços pessoais, pode ser chamada de DISPOSIÇÃO PESSOAL.
Existem evidências sólidas em estudos de grande escala, metodologicamente convincentes, de que os genes influenciam a personalidade adulta. Surpreendentemente, o mesmo não é verdadeiro para a hipótese do papel preponderante da criação pelos pais. Uma revisão crítica da literatura mostra pouca evidência conclusiva quanto ao ponto de vista de que eventos específicos do período de infância são os verdadeiros responsáveis pela arquitetura da personalidade adulta.
As experiências traumáticas precoces, também passam a fazer parte integrante e importante da personalidade em desenvolvimento. Portanto, contribuirão significativamente para a constituição da pessoa. Isso quer dizer que o termo "constitucional" não se refere exclusivamente ao que é genético, mas à interação entre o potencial genético e a influência ambiental precoce.
A delinqüência infanto-juvenil pode ser compreendida como busca de solução a uma história de conflitos, frustrações e privações, incluída aí a privação emocional das relações com as figuras parentais, mais especificamente com a figura da mãe.
Uma outra forma de delinqüência, aliás mais explícita e por todos reconhecida como tal, são as condutas anti-sociais propriamente ditas: furtos, roubos, agressões, depredações etc.
O desenvolvimento emocional fica muito comprometido em crianças com distúrbios de personalidade, uma vez que seu limitado repertório de emoções  para conviver com outras pessoas priva-as de trocas emocionais que promovem o crescimento. As crianças com transtorno de caráter, muitas vezes, projetam nos outros seus defeitos não aceitos, sua agressão e sua carência.
Não se sabe, exatamente, se pode-se dizer que a "marginalidade" é transmitida geneticamente, mas muito se sabe sobre ao componente genético do caráter, portanto, pode-se falar em concordância familiar para os transtornos sociopáticos (psicopáticos) da personalidade.
Tanto a CID.10 quanto o DSM.IV falam em antecedentes familiares nos sociopatas ou de pessoas com Transtornos Anti-Sociais da Personalidade. Acredita-se hoje que essa possibilidade existe sim e é sempre bom não confundirmos conhecimento científico com preceitos de caridade universal. Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, no artigo, "Crianças adotas e de orfanato", é um erro gravíssimo negar os conhecimentos científicos em nome daquilo que seria politicamente correto.
Trecho retirado do livro “A construção do psiquismo e os transtornos da conduta”, (Gilson Tavares, 2013)
Um abraço e até a próxima publicação.
Gilson Tavares
Psicanalista Clínico e Especialista em Gestão de Pessoas

Nenhum comentário:

Postar um comentário