A quem realmente ajuda a
crença na autoajuda?
Quase que invariavelmente -
todo livro, mensagem, palestra ou outros meios utilizados para vender a crença
na autoajuda, começa com histórias de vidas que foram transformadas. Histórias
de pessoas que criaram ou descobriram métodos ou fórmulas para enfrentarem
determinadas adversidades ou situações de vida, obtiveram sucesso nessa
empreitada e resolveram transformar isso em modelo, para que outras pessoas também
busquem o mesmo sucesso, trilhando o mesmo caminho por eles trilhado.
Não se pode negar que,
caminhar por um caminho mapeado por alguém que já fez o determinado percurso,
torna a caminhada mais segura, por conhecer antecipadamente os pontos mais
perigosos da caminhada e por saber que atitudes dever tomar diante dos desafios
encontrados. Só Que Não.
A caminhada da vida é única
para cada pessoa. Cada pessoa faz a sua caminhada de acordo com as suas
características; as suas experiências; os seus conhecimentos; as suas
habilidades; as suas motivações; os seus sonhos e objetivos e as suas
expectativas.
Por essa razão, as
experiências da caminhada de uma pessoa - no máximo, serve de conhecimento para
outras pessoas, nunca como uma fórmula para ser seguida.
Não raramente, as pessoas
são sedentas de qualquer coisa que possa aliviar os seus esforços e sacrifícios
na busca dos seus objetivos e sonhos de vida.
Nessa tentativa, “elas procuram o
caminho da autoajuda como quem procura um analgésico, na tentativa de neutralizar
a dor de assumir a própria responsabilidade na construção da sua vida e do seu
caminho”. Frase dita por minha esposa, Vera Lúcia Notaro, em nossa conversa
sobre o tema para essa crônica, e que achei muito pertinente e correta.
Sendo assim, essas pessoas
procuram o caminho da autoajuda, para lerem ou ouvirem alguém dizer que
conseguiu algo, e que elas também podem ser capazes de conseguir os seus
objetivos, basta acreditarem nelas mesmas.
Até aí tudo bem. Acreditar
em si mesmo é essencial para qualquer coisa. Mas, e quando o indivíduo, mesmo
seguindo todas as atitudes e fórmulas; repetido exaustivamente mantras para
acreditar em si mesmo; seguido rituais e encenações, para mostrar que a sua
vida agora se transformou - olha para a sua realidade e percebe que nada mudou?
Qual o sentimento que fica? Frustação e Incompetência – afinal, por que todos
conseguem, menos ele?
Por essa razão, é preciso
fazer algumas considerações, quando se fala em autoajuda:
A primeira coisa a se
questionar é: até onde a história e as experiências relatadas são autênticas?;
Qual o impacto que as atitudes e as fórmulas apresentadas tiveram realmente na
transformação ou sucesso obtido?; Como o contexto influenciou os resultados
obtidos?
E como cada pessoa é única,
torna-se necessário também questionar: Quais as habilidades e talentos natos da
pessoa, e que favoreceu os resultados obtidos?; Quais as experiências de vida e
os conhecimentos podem ter contribuído para o sucesso obtido? Quais os
sacrifícios e qual o preço pago para conseguir o sucesso obtido?
É a falta desses
questionamentos que faz com que, muitas vezes, a busca da autoajuda mais
atrapalha do que ajuda. Pois, enquanto o autor, palestrante, facilitador ou
seja qual for o termo utilizado, diz que todas as pessoas são capazes de obter
o sucesso esperado, bastando para isso acreditar e seguir o modelo apresentado
por ele, não considerando que cada ser é único, com suas habilidades e
talentos; com seus conhecimentos e experiências; com sua visão do que é o
sucesso. Não considerando também que cada situação tem suas próprias
características e seu próprio contexto.
Nunca podemos esquecer – São
as nossas atitudes que constroem o nosso mundo. E somos nós os responsáveis,
por nossas atitudes e pela construção do nosso mundo.
Muitos ainda colocam no
mesmo pacote trabalhos de autoajuda, trabalhos motivacionais e trabalhos de
desenvolvimento pessoal – que são processos totalmente distintos.
Mas essa é uma reflexão que
teremos na próxima publicação.
Psicanalista
Clínico e Organizacional
Consultor
em Gestão Comportamental
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