Hoje vamos fazer uma pequena reflexão sobre a civilização humana, segundo o livro O mal-estar na civilização, de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, escrito no ano de 1927.
Uma reflexão nada otimista, feita por Freud há quase 100 anos passados, sobre a civilização humana, mas que nos remete aos dias atuais, e infelizmente, hoje com um olhar ainda menos otimista do que há 100 anos atrás, a respeito da civilização humana.
Segundo Freud, no seu livro O mal-estar da civilização, a espécie humana, a vida humana, se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos outros animais, no que diz respeito à criação de cultura, na criação de conhecimento e na criação de civilização no sentido da palavra.
Esse processo, por um lado, inclui todo o conhecimento e toda a capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e de extrair riqueza da natureza, para a satisfação das necessidades humanas.
Por outro lado, o processo de civilização da espécie humana inclui todos os regulamentos, normas e Leis, necessários para ajustar as relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível, para a satisfação das necessidades de todos.
Nessa linha de pensamento, segundo esses escritos de Freud, uma pessoa pode se tornar uma riqueza, em relação à outra pessoa, na medida em que a outra pessoa faz uso da sua capacidade de trabalho, para satisfazer as suas necessidades ou aos seus desejos.
Ainda seguindo essa linha de pensamento, uma pessoa pode, eventualmente, se tornar um inimigo da civilização, ou do processo de civilização da espécie, uma vez que, para fazer parte dessa civilização, o indivíduo precisa se submeter aos regulamentos, as normas, as Leis criadas por essa civilização.
Sendo assim, a civilização, as instituições criadas para garantir a existência da civilização, precisa ser defendida contra o indivíduo, que por ventura, deseje ter os seus próprio interesses e objetivos atendidos, em detrimento dos interesses da civilização, e para isso, a necessidade da existência de normas, regulamentos e Leis, que possam conter os impulsos agressivos, destrutivos ou que ameacem a harmonia da civilização.
Dentro dessa visão, nada otimista em relação à natureza humana, as criações humanas são facilmente destruídas, a ciência e a tecnologia, que construíram os avanços tecnológicos, também podem ser utilizadas para a aniquilação da própria civilização.
Para Freud, em seus escritos há quase cem anos, embora a humanidade tenha efetuado avanços contínuos em seu controle sobre a natureza, não é possível estabelecer com certeza que um progresso semelhante tenha sido feito no trato dos assuntos humanos, ou seja, não é visto um progresso na espécie humana, no sentido de uma evolução como espécie, além da evolução cientifica e tecnológica.
Percebe-se claramente, nesse texto escrito há quase um século passado, que Sigmund Freud, o criador da psicanálise e pensador da condição humana, já alimentava um pensamento de profundo pessimismo em relação ao ser humano; em relação à vida em sociedade; em relação às conquistas tecnológicas e científicas como um avanço da humanidade, mas que não se traduzia em benefícios para essa mesma humanidade.
Freud, há quase um século, já chamava a atenção para a evolução que a civilização humana havia alcançado ao longo do tempo, mas que, o homem, a espécie humana, não parecia ter acompanhado também essa evolução, não evoluindo como pessoas melhores, com o surgimento de pessoas que contribuíssem para o surgimento de uma civilização mais fraterna e acolhedora.
Ao contrário, já falava com temor sobre a possibilidade da espécie humana ser aniquilada pela ação do próprio homem.
Passado quase um século que Freud escreveu esse texto, não mudamos muito como pessoas e como civilização. Ao contrário. Parece que, apesar de termos avançado de forma inimaginável por ele, no quesito tecnologia e ciência, como pessoas e como civilização, nós estamos pior do que há um século passado.
Parece que estamos involuindo como indivíduos e como espécie. Com o homem cada vez mais distante do seu semelhante e até distante de si mesmo, cada vez mais despreparado para a vida em sociedade e cada vez mais agressivo na destruição do seu próprio habitat e até na destruição do planeta.
Quanto ao quesito agir para atingir os próprios interesses e objetivos, mesmo que isso implique em prejuízos incalculáveis à outras pessoas, à comunidade ou mesmo à todo o planeta, parece que nunca estivemos pior.
Parece que não aprendemos nada com as lições do passado, e parece também que ainda não compreendemos que só podemos realmente evoluir como espécie quando compreendermos que fazemos parte da mesma civilização, a civilização humana.
Se é que um dia vamos ter essa compreensão.
Gilson Tavares
Psicanalista Clínico e Organizacional
Administrador, Especialista em gestão de pessoas
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