Relacionamento abusivo – o que é e como tudo começa

 

O mês de agosto está sendo dedicado à discussões a respeito da violência doméstica, da violência de gênero, da violência nos relacionamentos, do feminicídio.

Esse um fenômeno cada vez mais presente na mídia, principalmente nos noticiários policiais.

Retrato de uma sociedade adoecida. Principalmente, um retrato triste  de pessoas desequilibradas, desajustadas e covardes.

Pessoas que não têm a menor condição de viver um relacionamento saudável com outra pessoa.

Não é uma realidade fácil de lidar. Pois alguma mudança nessa realidade passa necessariamente pela educação. Passa pela construção de pessoas com noção de respeito ao outro. Passa pela construção de pessoas com noção de cidadania. Passa pela construção de pessoas com um mínimo de equilíbrio emocional.

Infelizmente, não é o que temos visto nos últimos tempos no Brasil. Muito pelo contrário. Temos visto sim a construção de pessoas cada vez mais sem um sentido para a própria vida e sem nenhuma relação saudável com o mundo a sua volta e com o outro com quem compartilha o mundo. Ou seja. Construção de pessoas desequilibradas e desajustadas. Com dificuldades para a vida em sociedade e para o convívio com outras pessoas.

E, se não é uma realidade fácil de ser mudada quando se fala na sociedade em geral. Isso torna ainda mais necessário que cada um faça a sua parte. Torna ainda mais necessário que cada pessoa se torne um defensor da vida. Torna mais necessário que cada um tenha responsabilidade sobre a própria vida e sobre as escolhas que faz para a sua própria vida. Torna mais necessário que cada pessoa tenha escolhas e atitudes que contribuam para a sua segurança pessoal. Tanto segurança física quanto segurança emocional.

E isso tem tudo a ver com o tema da violência nos relacionamentos.

Ninguém escolhe ser vítima de um relacionamento violento. Mas é a partir das escolhas que fazemos, em relação a quem permitimos que faça parte da nossa vida, que podemos também escolher se teremos relacionamentos saudáveis, construtivos, positivos, ou se teremos relacionamentos abusivos, tóxicos, desequilibrados, destrutivos, violentos.

Tudo começa pelas escolhas que fazemos. Tudo começa pelos critérios que temos, ou pela falta de critérios que temos, quando permitimos nos envolver com alguém.

Claro que ninguém tem escrito na testa se é alguém que merece a nossa confiança e o nosso respeito. Mas um mínimo de observação e de cuidados é necessário, e deveria ser a norma, antes de iniciar ou de aprofundar qualquer relacionamento.

Isso em relação aos cuidados pessoais que cada um precisa ter em relação a sua própria segurança.

Já em relação à sociedade em geral, é preciso ser repensando que tipo de valores estão sendo ensinados e construídos na nossa sociedade.

E isso é um trabalho que deve ser feito nas famílias, nas comunidades, nas instituições de ensino, nas instituições religiosas, em todos os ambientes.

É preciso que seja feito um trabalho de construção de pessoas que tenham noção de ética, noções de respeito, noções de convivência, noções de valorização da vida e noção de valorização das pessoas.

Mas cada pessoa também deve fazer o seu papel. Principalmente um papel de prevenção. Aprendendo evitar atitudes que contribuam para lhe colocar em risco e desenvolvendo atitudes que contribuam para a produção do seu bem-estar e da sua segurança. Tanto segurança física quanto segurança emocional.

O início de qualquer relacionamento afetivo é, ou pelo menos deveria ser, um tempo para as pessoas se conhecerem melhor, para verem se é isso realmente o que querem para as suas vidas.

Porém, nos dias atuais, na maioria dos casos, as pessoas têm muita pressa. No imediatismo de viver o momento, nem pensa nas consequências, queimam as etapas do relacionamento, e quando percebem realmente quem é o outro, e percebe que não é o que querem para as suas vidas, o relacionamento já tem evoluído para níveis que torna mais difícil se afastar da pessoa.

O envolvimento afetivo com alguém deve trazer paz na convivência a dois. Deve ser construído no respeito, na troca, na cumplicidade. Deve ser oportunidade para que ambos cresçam como pessoas.

Já um relacionamento desequilibrado só pode trazer sofrimento e dor para a vida de qualquer pessoa.

Em um relacionamento não saudável um suga o outro, um sufoca o outro, um destrói o outro.

Existe uma fórmula para evitar se envolver em um relacionamento abusivo?

Não. As pessoas não trazem escrito na testa quem elas realmente são.

Mas existem alguns cuidados que se pode ter, para detectar os sinas de desequilíbrio, os sinais de uma pessoa abusiva, os sinais de uma pessoa manipuladora, agressiva, violenta.

O início de qualquer relacionamento tem, ou deveria ter, esse papel. Conhecer melhor a outra pessoa.

Não conhecer a partir do que ela fala dela mesmo. Mas conhecer a sua família, conhecer os seus amigos, conhecer as suas experiências de vida, conhecer a sua história. E avaliar se consegue conviver de forma saudável com o que vai percebendo do jeito de ser do outro.

Geralmente, no princípio tudo são flores. As pessoas costumam mostrar o melhor de si mesmo.

Para conhecer realmente uma pessoa é necessário observar como essa pessoa se porta em diversas situações, como se porta em diversos ambientes, como se porta na relação com outras pessoas, também em diversas situações. E isso leva tempo.

Como estamos no mês dedicado à discussões e à reflexões a respeito de relacionamentos abusivos e violentos, voltaremos a falar sobre esse tema na próxima crônica. Quando vamos falar sobre sinais que podemos e devemos observar no comportamento das pessoas. Sinais que podem indicar quem realmente é uma pessoa. Sinais que podem ser indícios que indicam que tipo de relacionamento provavelmente poderá ser construído com essa pessoa, caso tenhamos algum interesse em relação à essa pessoa. Sinais que podem indicar uma pessoa desequilibrada, sinais que podem indicar uma pessoa abusiva, sinais que podem indicar uma pessoa violenta.

Gilson Tavares

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

Psicanalista Clínico e Organizacional

  


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