A importância dos limites para a sociedade civilizada

 

Falei aqui, há alguns dias atrás, que a distância entre a civilidade e a barbárie era uma distância bem pequena.

Falei que a linha que separa uma sociedade civilizada de uma massa acéfala e descontrolada era uma linha muito fina.

Falei também que o que permite a existência de uma sociedade civilizada era a constante luta das instituições que alicerçam a sociedade civilizada e de cada indivíduo que faz parte dessa sociedade civilizada, contra todos os indivíduos e contra todos os grupos, que atentarem para a o desmantelamento e para a destruição da sociedade civilizada.

Hoje, voltando ao assunto, vou falar um pouco sobre a importância dos limites para a sociedade civilizada. Sobre a importância dos limites para a manutenção da sociedade civilizada e para a convivência entre os indivíduos que vivem e que formam a sociedade civilizada.

Entre os tantos requisitos necessários para a vida em sociedade. Sobretudo, para a vida em uma sociedade civilizada, a observância de alguns limites na atuação de cada indivíduo em particular; a observância de limites na atuação do indivíduo no grupo; a observância de limites na atuação de grupos; a observância de limites na atuação das lideranças existentes na sociedade.

Enfim, todos os que vivem e que formam a sociedade civilizada, indistintamente da sua condição social, religiosa, racial, política, ideológica, devem ter a mesma observância em relação aos limites estabelecidos.

Ou seja, todos que vivem em uma sociedade civilizada devem ter a obrigação de respeitar e de seguir as normas de convivência estabelecidas. Normas essas que costumamos chamar de Leis e de regulamentos.

Olhando por essa ótica, percebemos a importância das Leis e dos regulamentos, que têm o importante papel de estabelecer limites para a atuação de cada indivíduo que faz parte da sociedade civilizada.

O estabelecimento de limites para a atuação de cada indivíduo em uma sociedade civilizada é o que torna todos iguais perante essa sociedade civilizada. Os limites de atuação de cada indivíduo é o que garante que todos tenham, pelo menos teoricamente, os mesmos direitos e os mesmos deveres.

Permitir que um indivíduo, permitir que um grupo de indivíduos, independente de qual seja o papel desse indivíduo ou desse grupo de indivíduos na sociedade, transgrida os limites estabelecidos e não seja contido, é permitir que esse indivíduo ou esse grupo de indivíduos ameace a convivência entre os que fazem a sociedade civilizada, é permitir que esse indivíduo ou esse grupo de indivíduo ameace a própria existência da sociedade civilizada.

Em uma sociedade civilizada, a pluralidade de ideias, a pluralidade de crenças, a pluralidade de ideologias, a pluralidade de pensamentos, a pluralidade de opiniões, devem ter o seu espaço de expressão, sem que sofra nenhum tipo de repressão.

Apenas que sejam respeitados os limites entre as ideias, entre as crenças, entre as ideologias, entre os pensamentos, entre as opiniões, de cada indivíduo e de cada grupo existente na sociedade civilizada.

Ninguém pode ser obrigado a ter os mesmos ideais, ser obrigado a ter os mesmos pensamentos, ser obrigado a ter as mesmas opiniões, que outros. Mas ao mesmo tempo, ninguém pode querer impor os seus ideais, ninguém pode querer impor os seus pensamentos, ninguém pode querer impor as suas opiniões, como se fosses as únicas verdadeiras.

Isso também é papel do estabelecimento de limites.

Limites do que é de um e do que é do outro.

Cada indivíduo deve ser livre na sua forma de viver. Cada indivíduo deve ser livre na sua forma de pensar. Cada indivíduo deve ser livre para viver as suas crenças. Cada indivíduo deve ser livre para viver os seus ideais. Cada indivíduo deve ser livre para viver as suas ideologias.

Porém, tudo isso só pode ser aceitável até o ponto em que a forma de viver de um indivíduo, as atitudes de um indivíduo, não atinjam outros indivíduos.

Permitir o desrespeito dos limites estabelecidos é permitir o enfraquecimento e a destruição das normas de convivência que permitem a convivência pacífica entre os indivíduos.

Querer impor aos outros as próprias opiniões e as próprias ideologias é a total quebra de limites que deve existir em qualquer sociedade civilizada.

Em uma sociedade civilizada, é totalmente necessário existir os limites de atuação da sociedade civil, os limites de atuação das forças de segurança, os limites de atuação das instituições religiosas, os limites de atuação dos partidos políticos, os limites de atuação dos grupos organizados. Enfim, cada um no seu quadrado.

Tentar impor aos outros as próprias opiniões, tentar impor aos outros as próprias crenças, tentar impor aos outros as próprias ideologias, é a instalação do fundamentalismo, é a instalação do extremismo, é a instalação do fascismo. Que são o que de mais nefasto, que são o de mais hediondo e que são o de mais condenável que pode ser concebido pela mente humana. Retrato de mentes doentias. Retrato de uma sociedade adoecida.

Assim também, enaltecer torturador, apoiar a obscuridade e o abismo, não respeitar a vontade dos que fazem a sociedade civilizada, é a instalação do extremismo, é a instalação do fascismo. Que são o que de mais nefasto, que são o de mais hediondo e que são o de mais condenável que pode ser concebido pela mente humana. Retrato de mentes doentias. Retrato de uma sociedade adoecida.

Enaltecer torturador, pregar quebra da ordem estabelecida, agir contra o respeito para com as normas da sociedade civilizada, são quebras de limites que nunca, em hipótese alguma, pode ser tolerado pela sociedade civilizada, são quebras de limites que nunca, em hipótese alguma, pode ser tolerado pelas instituições que têm a finalidade e a obrigação de garantir a ordem e a harmonia na sociedade civilizada.

Podemos, e até devemos, ser nós mesmos. Devemos procurar fazer aquilo que mais nos realiza e que nos traz mais satisfação. Mas precisamos sempre ter o cuidado de respeitar os limites, para não invadirmos o espaço que é do outro.

Esse é o preço que pagamos por viver em uma sociedade civilizada.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

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