Ideologia Fanatismo e rompimento com a realidade

 

Se tem um termo que esteve e ainda está na boca de todos. Um termo que está presente na mídia. Um termo que está presente nos noticiários. Um termo que está sempre associado à comportamentos de grupos. Um termo que está sempre presente nas movimentações da massa, esse termo é Ideologia.

Ideologia passou a ser um termo do cotidiano. Mas, o que é mesmo ideologia? O que o termo ideologia tem a ver com os comportamentos das massas?

Etimologicamente falando, ou seja, buscando o significado da palavra, não fica difícil perceber que o termo ideologia vem da palavra Ideia. Então, já podemos supor que o termo ideologia tem relação direta com a formulação, com a vivência e com a divulgação de ideias.

Na visão clássica do termo, ideologia tem o significado de uma ciência capaz de organizar metodicamente e de estudar o conjunto de ideias que formam a intelectualidade humana.

Na visão crítica do termo, a ideologia é uma ilusão, criada por uma classe para manter a aparente legitimidade de um sistema de dominação sobre outras classes.

Buscando compreender uma ideologia e o que essa ideologia representa, o que essa ideologia defende, é importante saber que Ideologia é um conjunto de ideias, um conjunto de convicções, um conjunto de princípios filosóficos, um conjunto de princípios sociais, um conjunto de princípios políticos, que caracterizam o pensamento de um indivíduo, que caracterizam o pensamento de um grupo, que caracterizam o pensamento de um movimento, que caracterizam o pensamento de uma época, que caracterizam o pensamento de uma  sociedade.

Uma ideologia estabelece valores e preferências de um grupo e formula um programa de ação para a execução dos objetivos definidos por esse grupo.

Por intermédio da ideologia, grupos dominantes legitimam as condições sociais de exploração e de dominação, fazendo com que essas condições de exploração e de dominação pareçam verdadeiras e justas.

A ideologia consiste precisamente na transformação das ideias da classe dominante em ideias dominantes para a sociedade como um todo, de modo que a classe que domina no plano material, a classe que domina no plano econômico, a classe que domina no plano social, a classe que domina no plano político, também domine no plano espiritual, também domine no plano das ideias.

Através do uso da ideologia, a dominação de uma classe sobre as outras faz com que só sejam consideradas válidas, só sejam consideradas verdadeiras, só sejam consideradas racionais, as ideias da classe dominante.

Uma ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de ideias e valores, de normas e regras, principalmente regras de conduta, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade e como devem pensar, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade o que devem valorizar, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade o que devem desprezar, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade o que devem sentir, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade como devem sentir, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade o que devem fazer, regras que indicam e que prescrevem aos membros da sociedade como devem fazer.

Martin-Baró, espanhol, autor de vários trabalhos com estudos sobre a psicologia social, afirma que, as pessoas interiorizam regras e normas sociais que respondem aos interesses da classe dominante, que essas regras e normas se impõem como uma estrutura não consciente e que essas regras e normas guiam o processo de alienação e de desumanização das pessoas.

Segundo esse autor e pesquisador da psicologia social, a alienação acontece como o estado em que uma classe social expressa e defende os interesses da classe dominante em detrimento dos seus próprios interesses.

De acordo com esse pensamento, a ideologia distorce a realidade, na medida em que esconde os verdadeiros interesses da classe dominante, esconde as distinçoes existentes entre as classes dominantes e as classes servidoras, fazendo parecer que os interesses são comuns, como se todas as pessoas compartilhassem das mesmas crenças e dos mesmos interesses.

O problema das ideologias está exatamente aí. No poder das ideologias de distorcer a realidade. No poder das ideologias de fomentar o fanatismo. No poder das ideologias de plantar realidades paralelas. No poder das ideologias na prática da manipulação das massas.

Ideologia, alienação, fanatismo, manipulação, rompimento com a realidade, tudo isso vira ferramenta nas mãos de grupos inescrupulosos, que não têm o menor remorso em usar pessoas para atingirem os seus objetivos.

E claro, as ideologias, com o poder de alienação e com o poder de manipulação, torna-se a ferramenta perfeita para induzir as massas à seguirem cegamente as ordens das classes dominantes e de grupos manipuladores, que, geralmente, cria mecanismos que levam as pessoas à acreditarem sem questionamento nas verdades fabricadas por esses grupos inescrupulosos e muitas vezes criminosos.

A utilização de ideologias como ferramenta de manipulação é um meio eficiente para formar verdadeiros exércitos de seguidores e para implantar ideais totalitários, ideais fundamentalistas, ideais extremistas, ideais fascistas.

Essa é e sempre foi a fórmula usada em todas as épocas e em todos os lugares sempre que alguém ou algum grupo fez ou tentou fazer algum movimento social com o objetivo de tomar o poder ou de implantar algum regime totalitário e fascista.

Exatamente por essa razão que ideologias fundamentalistas sempre têm alguma relação com fanatismos, alguma relação com manipulação de massas, alguma relação com o rompimento com a realidade. Isso para que, ideologias descompromissadas com a realidade consigam conduzir seus seguidores de acordo com as realidades paralelas produzidas e construídas para atingir objetivos sempre obscuros.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

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