Os fins nem sempre justificam os meios

 

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Certamente, todos já escutaram algumas vezes, geralmente em forma de desculpas, quando pessoas, diante de alguma decisão ou diante de alguma atitude reprovável, a justificativa de que, “os fins justificam os meios”.

Essa frase já foi utilizada por muitas pessoas, nas mais diversas situações.

Geralmente, esse pensamento é utilizado para justificar algum decisão ou alguma atitude extrema, para justificar alguma decisão ou alguma atitude reprovável, com a intenção de justificar a decisão ou a atitude como necessário para atingir um resultado, para atingir um fim, considerado necessário.

Mas, até que ponto, essa frase ou esse pensamento, de que os fins justificam os meios, pode ser considerado aceitável?

Se formos considerar as questões éticas, se formos considerar as questões morais, se formos considerar as questões legais, se formos considerar as questões relacionais, e principalmente, se formos considerar as questões realmente importantes para o longo prazo e se formos considerar as questões realmente importantes para o coletivo, serão poucas as situações que podem justificar o pensamento de que “os fins justificam os meios”.

Mesmo assim. Mesmo nas raras exceções em que os fins possam justificar os meios, esses meios nunca devem ultrapassar os limites da ética, esses meios nunca devem ultrapassar os limites da moralidade, esses meios nunca devem ultrapassar os limites do respeito ao outro, esses meios nunca devem ultrapassar os limites do sentido de humanidade, esses meios nunca devem ultrapassar os limites do sistema de valores, esses meios nunca devem ultrapassar os limites do que pode ser suportado pela consciência.

Primordial é saber que, por mais urgente e por mais necessário que seja uma resposta à uma situação, a vida é feita de um dia depois do outro. Seja qual for a situação ou o acontecimento, sempre haverá o momento seguinte, e inevitavelmente, sempre haverá também as consequências das atitudes diante da situação ou do acontecimento.

Situações que exigem respostas rápidas, quando não existe nenhuma possibilidade de outras alternativas e que, realmente, as respostas sejam totalmente necessárias, podem, talvez, justificar o pensamento de que “os fins justifiquem os meios”.

Situação em que a omissão, o não responder a situação, pode levar à algum desfecho trágico ou dramático; situação que oferece necessidade real de resposta e poucas alternativas para a resposta; situação que a resposta é realmente necessária para evitar um mal maior, pode, talvez, justificar o pensamento de que os fins justificam os meios.

Não raramente, governantes costumam se utilizar do pensamento de que os fins justificam os meios, fazendo uso de estratégias ilegais e as vezes até imorais, com o argumento de que suas ações são baseadas em sentimentos patrióticos ou conservadores, quando na verdade as suas intenções sempre são no sentido da manutenção do seu poder.

Situação nenhuma que possa causar algum tipo de prejuízo para outras pessoas, a fim de favorecer benefícios para alguém pode justificar o pensamento de que os fins justificam os meios.

Interesse particular nenhum, que cause algum tipo de prejuízo para terceiros, pode justificar o pensamento de que os fins justificam os meios.

Interesses grupais nenhum, ou interesses políticos nenhum, com o objetivo de atingir, com o objetivo de alcançar, interesses puramente grupais, ou interesses de grupos políticos, podem justificar o pensamento de que os fins justificam os meios.

Ideologia nenhuma, por mais correta que possa parecer para quem tem os seus dogmas como verdade absoluta, pode justificar o pensamento de que os fins justificam os meios.

Por incrível que pareça, nós fazemos uso do pensamento de que os fins justificam os meios mais vezes do que percebemos, em mais situações do que podemos imaginar.

Quando furamos uma fila de banco, fila de supermercado, fila da farmácia, fila da padaria, por acreditarmos que o nosso tempo é mais precioso do que o tempo dos demais e por isso justifica passar na frente de todos.

Quando não respeitamos o direito do outro no trânsito, por acreditarmos que temos mais pressa que o outro, que o compromisso que nos aguarda é mais importante do que o compromisso do outro, e isso justifica a nossa prioridade no trânsito.

Quando nos colocamos em risco e colocamos o outro em risco, em ultrapassagens irresponsáveis, por acreditarmos que a nossa pressa justifica não apenas arriscar a nossa própria vida, mas também colocar em risco a vida do outro.

Quando criamos ou compartilhamos informações mentirosas, mesmo que isso coloque em risco até a vida de pessoas, com o objetivo de extravasar o nosso ódio ou de impor as nossas ideologias, por acreditarmos que a nossa opinião deve sempre prevalecer, mesmo que em detrimento da opinião do outro.

Aliás, as ideologias, o ódio e os interesses grupais, que não levam em consideração o bem comum, nunca devem ser argumento para normalizar o pensamento de que os fins justificam os meios.

São muitos os exemplos dessa prática e seria impossível coloca-los todos aqui.

Porém, existe uma regra bem simples para sabermos se estamos tomando uma decisão de forma mais assertiva e se estamos balizando as nossas atitudes em valores positivos e que contribuam para o bem.

Essa regra é a mesma regra utilizada para determinar se uma atitude está balizada no sentido da ética.

Para isso, basta responder de forma honesta esses três questionamentos, diante de qualquer decisão ou de qualquer atitude.

Primeiro questionamento.

Eu realmente quero fazer isso? Ou estou sendo manipulado? Estou sendo induzido a fazer isso?

Segundo questionamento.

Eu posso fazer isso?

Eu tenho os recursos necessários para tal? Eu tenho os recursos materiais, financeiros, comportamentais e emocionais para fazer isso?

Terceiro questionamento?

Eu devo fazer isso?

Qual o impacto dessa minha decisão ou atitude? Quais as consequências dessa minha decisão ou atitude? Como essa minha decisão ou atitude irá afetar a mim mesmo? Como essa minha decisão ou atitude irá afetar as pessoas do meu convívio? Como essa minha decisão ou atitude irá afetar o meio onde vivo? Como essa minha decisão ou atitude irá afetar a minha comunidade?

Os resultados possíveis serão positivos ou serão negativos?

Somente se as respostas encontradas em todos esses questionamentos forem satisfatórias é que as minhas decisões e  as minhas ações estarão de acordo com a ética.

E quando colocamos a ética sempre nas nossas decisões e nas nossas atitudes, geralmente essas decisões e essas atitudes têm mais chances de serem as mais acertadas.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

 

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