Luto - A dor da vida que continua

 

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Estamos nos aproximando do dia que é dedicado à veneração, à dedicação ou pelo menos à lembrança daqueles que já partiram desse plano. Um dia para que as pessoas possam, cada um a seu modo, dedicar o seu tempo ou os seus pensamentos, em relação às lembranças dos seus entes queridos que cumpriram a sua missão aqui nesse plano e que já se foram.

Dentro desse clima, hoje trago para a nossa reflexão, o tema do luto. Luto como a dor da vida que continua. Um sentimento presente em toda situação de perda, mas que é único para cada pessoa. Cada pessoa sente, cada pessoa vivencia, o seu luto de acordo com o tipo de relação que mantinha com a pessoa que partiu e de acordo com a forma como cada pessoa encara a vida, de acordo como cada pessoa encara o sentido do existir. Isso tanto no sentido religioso quanto no sentido filosófico, que cada um tem para enxergar a vida e para enxergar o mundo.

O luto, como processo, é o sentimento surgido diante de qualquer perda: da perda de um ente querido; da perda de um emprego; da perda de um objeto; de um projeto fracassado; de um relacionamento terminado; de um sonho que não se tornou realidade.

O luto, seja qual for a razão, sempre traz consigo sentimentos de negação; sentimentos de tristeza; muitas vezes sentimentos de raiva; muitas vezes sentimentos de revolta; as vezes sentimentos de culpa; as vezes sentimentos de arrependimento; sempre sentimentos de vazio; sempre sentimentos de saudade.

Negação, por inicialmente não aceitar que a perda aconteceu.

Tristeza, pela falta do que ou de quem foi perdido.

Raiva, por ter perdido o ente querido.

Revolta, por ter sofrido a perda.

Culpa, por pensar no que poderia ter feito para não ter sofrido a perda.

Arrependimento, por não ter agido diferente quando teve oportunidade.

Vazio, pelo espaço deixado pelo que se foi.

Saudade, pela falta do que se foi.

O luto pela perda de alguém querido é como uma ferida: sangra no início, dói, e, com o passar do tempo, a ferida vai fechando. Mesmo que seja um processo lento e doloroso.

A dor do luto é único para cada pessoa. Cada um sente e expressa de uma forma diferente. A forma utilizada para expressar a dor do luto é a maneira que cada um utiliza para encontrar o alívio para a dor da perda.

Parar a vida por causa do sofrimento é que é um caminho perigoso, que pode até afetar a saúde e a sobrevivência da pessoa enlutada. Podendo causar um isolamento da pessoa do meio familiar, do meio social ou do meio profissional.

A perda de um ente querido é como perder parte do próprio corpo. O tempo passa, a dor se transforma em saudade, mas sempre fica o sentimento de que está faltando algo na vida.

Existem algumas etapas que a pessoa precisa processar para elaborar o sentimento de luto:

O Choque. A pessoa não acredita que a perda aconteceu.

A Negação. A pessoa não aceita que aconteceu a perda, procura se apegar a coisas e fatos que mantém a pessoa que se foi presente, pensa em situações que a pessoa que se foi poderia está presente, até começar a aceitar a realidade da perda.

O Sofrimento pela perda. Quando surgem os sentimentos de culpa, momentos de depressão, a ansiedade, a solidão, podendo apresentar também sintomas físicos, podendo afastar-se das pessoas e deixar de cumprir a sua rotina normal.

Depois vem a Aceitação. Quando começa a perceber que a vida continua. Quando começa a se ajustar á realidade da perda e a ajustar a sua vida com a realidade da perda. Quando descobre novos horizontes na sua vida. Quando começa a desenvolver atitudes positivas e construtivas.

No enfrentamento do sentimento do luto é essencial manter a vontade de viver. É natural o sentimento de que a vida não tem mais nenhum sentido quando se perde uma pessoa muito próxima. Mas, é necessário se perceber que, o sentimento de perda de sentido da vida pode ser superado exatamente se procurando colocar mais sentido na vida, e que, se a vida vai durar muito ou pouco, não é a sua duração que fará a diferença, e sim, o que se fará com o tempo de vida que resta.

Com o passar do tempo e com a reorganização da vida, reconstruindo a vida, procurando preencher o espaço deixado pela pessoa que se foi, aos poucos, a dor da perda vai se transformando em saudade.

A perda de alguém próximo é uma experiência de humildade, quando aprendemos a dominar a arrogância, entendendo que não temos nenhum controle sobre a vida.

Quando existe a dificuldade na retomada da vida, após a vivência do processo do luto, se faz necessário à procura de um profissional, que ajude a pessoa a aceitar a perda, que ajude a pessoa a aceitar a realidade da morte e que ajude a pessoa a construir novos valores para a sua vida.

Na superação do sentimento de luto, é necessário se trabalhar a conscientização de que as coisas nunca mais voltarão ao normal. Pelo menos, não da mesma forma como era antes. É necessário que a pessoa se acostume com a ausência do que partiu.

Por que falei logo no início, que ia falar sobre o luto, como a dor da vida que continua? Porque, na verdade, a dor do luto não é pela pessoa que partiu, e sim, pela pessoa que ficou. O sentimento do luto é a dor de ter que continuar vivendo sem a presença da pessoa que se foi.

Portanto, o luto não é um sentimento do que se vai, e sim, o sentimento do que fica. Porque, mesmo com a falta do que se foi, a vida sempre continua.

E, como o luto é a dor da vida que continua, podemos pensar nesse sentimento não como um sentimento de morte, mas como um sentimento de vida.

Podemos perceber que a dor da perda de uma pessoa próxima é tão mais forte quanto menos fizemos para que a pessoa que se foi tivesse uma vida mais agradável e satisfatória.

Depois que a pessoa se vai, pensar no que poderia ter feito diferente, além de impossível, pois a morte é definitiva e não tem segunda chance, é também um fator que potencializa o sofrimento.

Dessa forma, devemos sempre ter a certeza de que não sabemos quanto tempo teremos ao nosso lado as pessoas a quem amamos, e devemos procurar viver esse tempo o melhor possível, fazendo o melhor possível pelos que amamos.

Quando perdemos pessoas próximas e temos a certeza que vivemos com elas o melhor que podíamos ter vivido, o enfrentamento do processo do luto se torna mais suave e menos sofrido, pelo sentimento de que fizemos o nosso melhor.

Como sempre, diante de qualquer situação, até mesmo diante da perda de pessoas que amamos, o que fará a diferença é a certeza de que fizemos o nosso melhor.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

 

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