Nos últimos tempos, uma palavra que tem ocupado grande parte do tempo de todos os meios de comunicação e também das conversas entre as pessoas é essa tal de fake News. Que em bom português, o nome correto é mentira mesmo.
Nunca tivemos em momento algum da nossa história um momento aonde a mentira circula tanto, divulgado por tantos e com um poder de destruição das relações e das instituições sem precedentes.
A mentira com o claro objetivo de destruir reputações, deturpar verdades comprovadas e instalar um clima de instabilidade e de superstições como instrumento de controle das massas que consomem tais mentiras de forma inquestionável, quase como se fossem dogmas de fé. E nem sei se o quase deveria estar presente aqui.
A mentira criada e compartilhada em nome de uma moralidade hipócrita, em defesa de valores que na maioria dos casos não são praticados pelos que cobram a prática de tais valores. Pessoas que posam de pessoas de bem mas que na sua prática de vida mostra exatamente o contrário.
A mentira em nome de interpretações deturpadas e interesseiras da bíblia, interpretações deturpadas e interesseiras da palavra de Deus, para atender à interesses de líderes inescrupulosos e para impor o medo e a opressão como ferramenta de poder.
A mentira transformando crenças religiosas em fanatismo, quando as pessoas passam a agir desprezando o bom senso, desprezando o sentido crítico, desprezando o uso da razão, muitas vezes até desprezando o direito do outro de ter as suas próprias crenças.
A mentira é usada atualmente de forma descarada, deliberada, irresponsável e até criminosa. Sem o menor pudor. Sem o menor pudor de quem cria a mentira e sem o menor pudor de quem compartilha a mentira.
O mais grave, a mentira só tem esse poder de influenciar o comportamento de milhares ou de milhões, porque encontra neles terreno fértil para a sua reprodução e para a sua propagação.
Porque encontram pessoas que já estão predispostas a acreditarem nessas mentiras, pessoas que já têm as suas crenças formadas, enraizadas, balizadas em suas próprias convicções, e sendo assim, essas mentiras apenas confirmam aquilo que essas pessoas já acreditam ser verdadeiro.
O uso da mentira como instrumento de poder e de dominação acompanha a história humana, desde que é possível registrar os fatos que construíram o mundo como conhecemos hoje.
E muitas dessas histórias de uso da mentira como instrumento de poder causaram grandes desastres para o mundo, como também foram causadoras de milhões de mortes ao redor do mundo e ao longo da história.
Claro. A mentira como instrumento de poder só pode contribuir para destruir. Nunca para construir.
São fatos. Fatos não podem ser questionados.
Ao longo da história, desde o início dos séculos, várias realidades e discursos foram construídos por pessoas inescrupulosas que ocupavam o poder, para assim manter o poder ou para controlar a população através da manipulação de ideias e da manipulação de pensamentos.
A mentira não destrói apenas reputações e instituições, destrói também a dignidade daquele que mente, destrói a dignidade daquele que compartilha a mentira.
Aquele que compartilha a mentira, mesmo sabendo que é mentira, demonstra uma personalidade manipulável, demonstra não ter um mínimo de senso crítico, demonstra não ter um mínimo de bom senso, demonstra não ter um mínimo de sentido de ética, demonstra não ter um mínimo de sentido de moralidade.
Não é uma questão de política ou de religião. É antes de tudo uma questão de caráter.
A não ser que você faça parte do grupo de pessoas que compartilha mentiras, mesmo sabendo que são mentiras, e isso não lhe incomoda, mesmo sabendo que compartilha algo não verdadeiro. Se você tem algum compromisso com a verdade, existe alguns cuidados que você pode tomar pra não ser mais um multiplicador de mentiras.
Verifique a fonte de tal informação.
Verifique quem é o autor da informação e qual o seu interesse nessa informação
Verifique se não é uma informação sensacionalista.
Verifique se não é uma informação apelativa.
Principalmente, verifique porque você precisa compartilhar tal informação.
Para enfrentar essa verdadeira pandemia do uso da mentira, muito tem que ser feito.
E certamente, só poderemos ter sucesso nessa luta quando investirmos mais em educação, não na educação que forma apenas mão de obra, mas na formação que forma o cidadão, com noção da sua importância para o mundo onde vive, com noção de empatia e respeito pelo outro, com noção do bem comum e com noção da importância das suas atitudes para a construção da sociedade onde vive.
Principalmente com noção do que realmente significa ser cidadão.
O desenvolvimento do senso crítico seria um bom começo.
O uso do senso crítico é a avaliação consciente diante de um fato, diante de um comentário, diante de uma experiência ou diante de uma informação.
O uso do senso crítico começa com uma observação inicial do fato, comentário ou informação, seguido de um julgamento desse fato, comentário ou informação, visando confirmar ou não a sua veracidade.
O uso do senso crítico exige que você consiga afastar suas crenças pessoais para poder analisar um fato, comentário ou informação. Afastar as suas crenças religiosas, afastar as suas crenças políticas, afastar as suas crenças ideológicas.
O uso do senso crítico ajuda a formar indivíduos conscientes de sua realidade e, em especial, ajuda a forma indivíduos de que podem ser agentes de transformação – da sua vida e do meio onde vive.
O uso do senso crítico é uma habilidade fundamental na formação de cidadãos verdadeiramente conscientes do seu papel na construção da sociedade onde vive.
O uso do senso crítico é uma necessidade fundamental na formação de verdadeiros cidadãos.
Gilson Tavares
Psicanalista Clínico e Organizacional
Administrador, Especialista em gestão de pessoas
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