A educação, a conscientização e a necessidade da punição

 

Você também, como eu, as vezes tem a sensação de que, enquanto sociedade, enquanto cidadãos, nós estamos involuindo?

Você também, como eu, as vezes tem a sensação de que as pessoas estão perdendo a noção do que é viver em sociedade?

Você também, como eu, as vezes tem a sensação de que as pessoas estão perdendo a noção da importância das regras de convivência para a relação saudável entre as pessoas?

Você também, como eu, as vezes tem a sensação de que as pessoas perderam a noção do que é certo e do que é errado?

Esses são apenas alguns exemplos de como podemos perceber o quanto estamos involuindo como cidadãos, o quanto estamos involuindo como pessoas.

Ainda bem que isso não é uma regra geral. Ainda bem que esses são exemplos de minorias. Parecem ser exemplos daquelas pessoas que acreditam, sabe-se lá por qual razão, serem superiores às outras pessoas.

Pior é que, mesmo sendo uma minoria, essas pessoas, aquelas que não respeitam as regras, acabam não apenas por muitas vezes se atrapalharem, mas atrapalham também aos demais, atrapalham aqueles que seguem as regras. Isso quando não causam acidentes que até matam aqueles que respeitam as regras.

Exemplos vemos aos montes, todos os dias. Pessoas que insistem em ultrapassagens irresponsáveis nas estradas. Elas têm noção de que isso é errado? Claro que sim. Elas têm noção de que estão se colocando em risco? Claro que sim. Elas têm noção de que estão colocando outras pessoas em risco? Claro que sim.

Então, podemos perceber que não é questão de educação. Podemos perceber que não é questão de conscientização. Campanhas vemos todos os dias em todos os meios de comunicação. Podemos perceber mesmo que, aqueles que fazem isso, fazem simplesmente porque não se importam. Não se importam nem com eles mesmos nem com qualquer outros, ou outros, que venham a causar graves danos, ou mesmo matar, sem chance de defesa.

Tem alguma diferença nesse ato e em um assassinato com qualquer outra arma que não um veículo usado como arma?

Eu mesmo já passei por várias dessas ocasiões, viajando pelas estradas. Surpreendido por motoristas irresponsáveis. Entre as tantas fechadas nas estradas, teve uma que não foi possível sair da frente e teve como resultado várias vítimas fatais e eu, mesmo sobrevivendo, vários dias em coma e vários meses de recuperação.

Mas não é apenas nas estradas que encontramos com essas pessoas que não consideram as regras de convivência, e até de sobrevivência.

O que dizer da grande maioria dos motoqueiros? As estatísticas mostram que quase a totalidade dos acidentes, inclusive dos acidentes fatais, têm como causa a imprudência dos próprios condutores das motos envolvidas nos acidentes?

Falta de educação? Falta de conscientização? Ou apenas porque não se importam?

E não é apenas no trânsito.

Aqui mesmo, na cidade de Garanhuns, no parque principal da cidade, basta caminhar na pista apropriada para que qualquer um possa ir lá e fazer a sua caminhada, que vai encontrar exemplos semelhantes aos encontrados nas estradas. Não com pessoas fazendo ultrapassagens irresponsáveis, mas com pessoas caminhando sempre no sentido contrário ao sentido da pista, obrigando as pessoas que caminham no sentido correto a terem que desviar delas o tempo inteiro para não colidir com elas.

Basta ir tentar pedalar com a sua bike na Avenida Rui Barbosa, aos domingos pela manhã, quando a avenida é interditada para que apenas pedestres, ciclistas e assemelhados possam passar pela avenida.

Lá, na avenida, você vai vê que tem faixa determinadas para pedestres e faixa determinada para ciclistas e skates. Porém, você vai vê que poucos respeitam as regras. Mesmo com placas indicando as faixas apropriadas para cada tipo de usuário da avenida, o que vemos na prática é um misturado de pessoas, bicicletas, skates e tudo o mais disputando o mesmo espaço.

Falta de educação? Falta de conscientização?

Ou apenas por não se importar em fazer o certo?

Exemplos temos em todos os setores da sociedade. Por exemplo, o que dizer das pessoas que fazem campanhas anti-vacina?

Vacinas, que ao longo dos anos já salvaram tantas vidas no mundo inteiro. Mas que são atacadas por pessoas apenas por razões ideológicas.

Falta de conscientização? Ou apenas por não se importarem?

No caso, não se importarem com a preservação da sua própria saúde e não se importarem com a preservação da saúde coletiva.

O que dizer de pessoas que ameaçam ou até agridem as instituições e os estatutos que fazem a sociedade ser uma nação? Dizer que não sabem que estão cometendo crimes? Ou apenas não se importam?

O que dizer das pessoas que criam, manipulam e compartilham mentiras? Fake News? Dizer que não sabem que estão compartilhando mentiras? Dizer que não sabem que estão cometendo crimes? Ou apenas não se importam? Além de descaso, é também uma demonstração de mau-caratismo.

Eu mesmo, certa vez, questionei um amigo sobre algo que ele havia compartilhado, se ele não sabia que aquilo não era verdadeiro. A resposta dele foi que sabia sim, que não era verdadeiro. Mas que não importava. Que o importante mesmo era o objetivo ser atingido.

O que dizer das cenas degradantes que vimos nos últimos dias, quando deputados, eleitos para serem representantes dos interesses do povo, se digladiando no plenário, em pleno Congresso Nacional?

Sessões são interrompidas por total falta de condições de continuidade, pelos tumultos promovidos por aqueles que deveriam estar ali cuidando dos interesses da nação.

Falta de educação? Falta de conscientização? Ou apenas por não se importarem?

Repeti essas perguntas algumas vezes hoje não por acaso. Repeti mesmo para chamar a atenção para as perguntas.

Falta de educação? Falta de conscientização?

Não.

O que está faltando mesmo é as pessoas se importarem.

O que vemos mesmo, em todos os casos citados antes é o total descaso.

O descaso com o outro. O descaso com o bem comum. O descaso com as regras de convivência. O descaso com a verdade. O descaso até mesmo em relação a própria vida.

E sendo assim. Quando a educação não está funcionando. Quando a conscientização não está funcionando. Só resta outra alternativa. A punição.

A punição não deveria ser instrumento de controle nem instrumento de conscientização de pessoas nem da sociedade. Mas, quando a educação não é suficiente, quando a conscientização educativa não é suficiente, apenas a punição pode fazer algum efeito.

A punição nunca deveria ser o caminho. Mas infelizmente, nesse momento obscuro da nossa sociedade, a punição parece ser o único caminho.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

Assumindo o controle

 

Já falei aqui, em ocasiões anteriores, que não somos totalmente donos dos nossos sentimentos, dos nossos pensamentos e das nossas atitudes. Que, de acordo com estudos comportamentais, nosso cérebro decide de forma quase automática as nossas ações e reações, diante dos desafios enfrentados.

Mas falei também que esses estudos não tiram as responsabilidades que temos sobre as nossas ações. Uma vez que, para que o nosso cérebro tome as suas decisões, ele tem como matéria prima para os pensamentos, os sentimentos e as ações possíveis, as informações que consumimos, os valores que construímos e as experiências que vivenciamos. Trazendo de volta a nossa total responsabilidade sobre os nossos pensamentos, os nossos sentimentos e as nossas atitudes.

E sendo assim, novamente, como podemos contribuir para assumir o controle sobre os nossos pensamentos, sobre os nossos sentimentos e sobre as nossas atitudes? Se é que isso é possível.

Claro que não posso dizer que isso é uma tarefa fácil. Nem mesmo posso dizer que é uma tarefa possível. Assumir o controle sobre a própria vida, assumir o controle sobre os próprios pensamentos, sentimentos e atitudes.

Mas podemos, pelo menos, encontrar formas de lidar com nossos pensamentos, formas de lidar com nossos sentimentos, formas de lidar com as nossas escolhas e com as nossas atitudes, de forma mais equilibrada, mesmo diante de momentos de desafios, diante de momentos de adversidades.

Primeiro, quero chamar atenção para um dos pilares da escola filosófica conhecida como estoicismo, fundada no século quatro antes de Cristo, em Atenas, segundo o qual, não são os acontecimentos que perturbam as pessoas, e sim, os seus julgamentos a respeito dos acontecimentos.

Esse pensamento, já tão antigo, confirma o que sabemos hoje. Que o nosso olhar e o nosso julgamento, diante de qualquer acontecimento, faz toda a diferença na forma como vamos reagir em relação ao acontecimento e faz toda a diferença nos resultados que vamos obter com as nossas atitudes.

Vivemos em um mundo de muitas incertezas, um mundo de muitos desafios, um mundo de muitas provocações. Como manter o equilíbrio diante desse mundo tão desafiador? Como manter algum controle sobre nós mesmos e sobre a nossa vida nesse mundo cheio de provocações?

Primeiro é aprender a identificar o que não está sobre o nosso controle. Geralmente, temos o desejo de controlar tudo ao nosso redor, mas nem sempre isso é possível. Encontrar um equilíbrio é essencial. Equilíbrio para saber sobre o que e como se deve agir, para manter o controle sobre a própria vida. Equilíbrio para saber sobre o que não se tem muito o que fazer. Equilíbrio para saber lidar com o que não se tem como agir. Equilíbrio para lidar com o que não se tem controle.

Importante saber que, mesmo diante de algo ou diante de algum acontecimento, que não se tem como controlar, mas a forma como vamos responder a esse algo ou a esse acontecimento, é de nossa inteira responsabilidade.

Podemos não ter controle sobre algo ou sobre algum acontecimento, mas podemos, e devemos, ter controle sobre a forma como agimos, ter controle sobre a forma como reagimos, mesmo diante de algo ou diante de algum acontecimento, que não temos controle sobre ele.

Não temos controle sobre os acontecimentos, mas temos controle sobre a nossa reação diante dos acontecimentos.

O que pode contribuir para buscar formas equilibradas de responder a acontecimentos que não se tem controle é enxergar os acontecimentos como desafios a serem superados, enxergar os acontecimentos como oportunidades para o crescimento pessoal, enxergar os acontecimentos como caminho de evolução.

Saber que, inevitavelmente, a vida é feita de constantes mudanças, inclusive de perdas, é uma forma de está preparado para lidar com os momentos difíceis, que exigirão mais equilíbrio e mais resiliência, para aceitar a vida como ela é, e muitas vezes, até para recolocar a vida de volta nos seus trilhos.

Nesse quesito, mudanças e perdas, se faz necessário inclusive saber que, não tem nada que você possa fazer para assegurar que não seja atingido ou atingida pelas circunstancias da vida. Não existe nada que você possa fazer que possa assegurar que não aconteça mudanças e perdas na sua vida.

Mas é importante também viver o presente. Não permitir que acontecimentos do passado ditem a sua forma de viver no presente. E também não permitir que as preocupações com o futuro lhe tirem o prazer de viver o presente.

Planejar sim. Se preparar para enfrentar os desafios que poderão, e que certamente irão surgir, é necessário. Até porque, quanto mais preparado estiver, melhor irá superar os desafios.

Porém, não se pode permitir que as preocupações com o futuro impeçam de viver o presente da melhor forma possível.

Necessário, e essencial, aprender a praticar o olhar positivo. Aprender a enxergar não apenas pontos negativos, diante dos acontecimentos, mas buscar o que de positivo possa ser encontrado nos acontecimentos. Mesmo que seja apenas a oportunidade de crescimento pessoal.

Importante também aprender a olhar a existência como um todo. A vida é feita de momentos, mas a vida não é apenas esses momentos. A vida é um todo. A vida é um dia depois do outro.

Não temos controle sobre a vida. Mas podemos ter o controle sobre como vivemos a vida.   

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

Sinais de uma sociedade adoecida

 

Hoje vou falar sobre alguns sinais de uma sociedade adoecida.

Não era esse o tema que eu tinha preparado para falar hoje. Exatamente o oposto. O tema de hoje seria falar sobre caminhos de transformação. Seria falar sobre a necessidade de novos olhares sobre a vida e sobre como podemos, e devemos, buscar formas mais equilibradas de enfrentar as adversidades do mundo.

Porém, como acredito que todos que tenham um mínimo de sensibilidade e de solidariedade humana, não tem como não ficar com a mente inundada de pensamentos e de sentimentos negativos em relação à nossa sociedade atual. Não tem como não ter um sentimento de fracasso da sociedade. Não tem como não ter um sentimento de que vivemos em uma sociedade adoecida.

Como chegamos a esse nível de adoecimento da sociedade?

Como chegamos a esse nível de banalização da vida?

Como chegamos a esse nível de desvalorização do outro?

Como chegamos a esse nível de desvalorização da vida do outro?

Como chegamos a esse nível de desvalorização da própria vida?

Quando pensamos que chegamos no fundo do poço, em relação a capacidade de mentes doentias cometerem atrocidades, somos surpreendidos a cada dia por verdadeiras tragédias, cometidas por pessoas que fica até difícil de definir o nível de escuridão que têm nas suas almas.

Que gatilho foi acionado para impulsionar essas mentes doentias?

O que passa pela cabeça de uma pessoa que é capaz de atos tão cruéis, que podem ser inimagináveis até mesmo como roteiro de um filme de terror?

Quais as motivações doentias pode ter alguém para massacrar crianças inocentes, e de uma forma tão cruel, tão desumana, tão diabólica?

Quais as motivações doentias que podem levar alguém a invadir uma sala de aula para esfaquear professores e colegas de classe?

Que pensamentos doentios passam pela cabeça de alguém que resolve matar a tiros outra pessoa, apenas pelo fato dessa outra pessoa ter um pensamento diferente do seu?

Que pensamentos doentios passam pela cabeça de alguém que resolve agredir, ou até mesmo matar, quase sempre por meios cruéis, outra pessoa, pelo simples fato dessa outra pessoa não aceitar mais ser oprimido ou ser agredido por uma pessoa desequilibrada?

Que sentimentos doentios passam pela cabeça de alguém que é capaz de matar outra pessoa, para lhe roubar um objeto qualquer ou para lhe roubar um valor qualquer?

Que sentimentos doentios preenchem o vazio de uma alma sem rumo, que é capaz de agredir outra pessoa, apenas pelo fato dessa outra pessoa não satisfazer os seus desejos e as suas vontades?

O incentivo e a disseminação da cultura do ódio tem alguma influência no crescente aumento de casos de violência nos dias atuais?

O incentivo e a disseminação da cultura da violência, expressados pelo incentivo ao ato de portar uma arma, sempre pronto para revidar com agressividade extrema qualquer contrariedade, tem alguma influência no crescente aumento de casos de violência nos dias atuais?

Claro que sim. Não precisa ser nenhum especialista para perceber isso.

O que dizer da violência por questões ideológicas?

O que passa pela cabeça de alguém que resolve abater a tiros, outra pessoa, apenas pelo fato dessa outra pessoa não ter as mesmas opiniões políticas que as suas?

O que passa pela cabeça de alguém, que por motivos políticos, resolve plantar uma bomba em um aeroporto, que se não detectado em tempo, teria causado uma tragédia de grandes proporções, certamente com centenas de mortes?

Essas pessoas perderam a noção do sentido da vida?

Essas pessoas perderam a noção do sentido da própria vida?

Como pode alguém se dizer um Ser Humano, no sentido da palavra? E compactuar com pensamentos e com atitudes que destroem o outro?

Como pode alguém se dizer um Ser Humano, no sentido da palavra? E compactuar com pensamentos e com atitudes que desvalorizam o outro?

Como pode alguém se dizer um Ser Humano, no sentido da palavra? E compactuar com pensamentos e com atitudes que agridem o outro?

Como pode alguém se dizer um Ser Humano, no sentido da palavra? E compactuar com pensamentos e com atitudes que torturam o outro?

Como pode alguém se dizer um Ser Humano, no sentido da palavra? E compactuar com pensamentos e com atitudes que matam o outro?

Realmente. Não tem como não ser pessimista em relação ao futuro da nossa sociedade. Não tem como não pensar que estamos realmente em uma sociedade muito adoecida.

Mas ainda tem solução?

Tem sim. Mas não será fácil.

Não será fácil lutar contra os que plantam o caos, para do caos poderem tirar os seus lucros econômicos e os seus lucros políticos. Os seus desejos de poder.

Essa é uma luta de todos os que desejam uma sociedade que não seja dominada pelo ódio e pela violência.

Essa é uma luta de todos os que desejam uma sociedade que seja construída na igualdade, na fraternidade e no respeito. Inclusive no respeito ao que pensa diferente.

Talvez um caminho seja a construção de pessoas que tenham valorizados sentimentos de civilidade, a construção de pessoas que tenham valorizados sentimentos de cidadania, a construção de pessoas que tenham valorizados sentimentos de educação, a construção de pessoas que tenham valorizados sentimentos de humanidade.

E isso é, ou pelo menos deveria ser, uma missão de todos. De governos, da sociedade, das instituições e de cada um.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Porque acreditamos no que acreditamos – mesmo que não seja verdadeiro

 

Você sabe por que acreditamos no que acreditamos, mesmo que, o que acreditamos, não seja verdadeiro?

Você sabe por que acreditamos em uma mentira, mesmo que os fatos e a realidade comprovem que o que acreditamos seja uma mentira?

Você sabe por que é tão difícil mudar a crença em algo não verdadeiro, mesmo que os fatos e a realidade comprovem que a tal crença não seja verdadeira?

Nunca se falou tanto em mentiras, em falseamento de realidades e em como o uso de mentiras e criação de realidades ilusórias podem ser úteis como ferramenta de manipulação e em como podem ser destrutivas, de pessoas, de instituições e até de nações.

Por que as pessoas mentem?

Segundo alguns estudos psicológicos e comportamentais, entre as principais causas para o uso da mentira estão:

Tirar vantagem de algo, de alguém ou de alguma situação.

Obter ou manter privilégios.

Autopreservação. Quando faz uso da mentira para escapar da responsabilização sobre algum mal feito.

Controle. Quando faz uso da mentira para manter o controle sobre pessoas ou sobre situações.

Aceitação. Quando faz uso da mentira para ser aceito em algum grupo social.

Manutenção da imagem. Quando faz uso da mentira para manter uma reputação que na verdade não tem.

Florear a realidade ou um fato específico, para torná-lo mais interessante.

Entre outras razões.

E claro, a mitomania. Quando mentir faz parte do cotidiano. Quando mentir torna-se algo patológico. Quando, mesmo sem que exista nenhuma razão ou motivação para mentir, a pessoa fantasia sempre a realidade.

O uso da mentira como ferramenta de poder e de manipulação nas esferas governamentais não é nenhuma novidade. Esse é um recurso utilizado por diversos governantes em vários momentos da história mundial, inclusive na atualidade, como podemos encontrar vários exemplos, e por diversas motivações. Mas sempre relacionado à manutenção do poder.

Claro que, todos aqueles que fizeram e que fazem uso da mentira para distorcer a realidade, todos aqueles que divulgam essas mentiras, todos aqueles que compartilham essas mentiras, no mínimo, dão uma clara demonstração de seu mau-caratismo e de seu canalhismo, além de estarem cometendo crimes. Todos eles precisam responder por isso, na esfera criminal. 

Então, a pergunta não é por que governantes usam a mentira como ferramenta de manipulação.

A pergunta é, porque as pessoas acreditam no que acreditam, mesmo que, o que elas acreditam não tenha nenhuma fundamentação em algo verdadeiro?

As respostas podem não ser tão fáceis de encontrar e podem ter várias causas. Porém, as motivações psíquicas, psicológicas, emocionais, talvez sejam mais fáceis de serem encontradas.

Na literatura psicológica, encontramos a expressão “verdade por repetição”, que se refere ao fenômeno psicológico que diz que, quanto mais uma informação é repetida, mais tendemos a acreditar que ela é verdadeira, independentemente de sua veracidade. Esse efeito pode ser observado na política, na publicidade, na mídia e em várias outras áreas da sociedade.

O fenômeno da “verdade por repetição” é tão forte que mesmo informações falsas e absurdas, se repetidas com frequência suficiente, podem ser internalizadas e aceitas como verdadeiras.

Esse processo ocorre porque, ao longo do tempo, com a exposição à repetição da mentira, nosso cérebro tende a registrar essas mentiras recebidas constantemente como sendo mais confiáveis e verdadeiras.

Significa dizer que, Por que acreditamos no que acreditamos, mesmo que não tenha nenhum fundamento ou verdade naquilo que acreditamos?

A resposta é simples. Acreditamos porque queremos acreditar.

Acreditamos porque, a informação que recebemos, mesmo que não tenha nada de verdadeiro nela, mas que tenha alguma relação com algo que já tenhamos como verdade, será considerado também uma informação verdadeira, sem nenhuma necessidade de verificação ou de constatação da sua veracidade.

Esse é outro fenômeno também da literatura psicológica, chamado de “Ilusão da verdade”. Quando aceitamos algo como verdadeiro, apenas por ter alguma relação com algo que já conhecemos e temos como verdadeiro. Por essa razão, não temos a necessidade de checar a sua veracidade.

Como pode ser combatido esse fenômeno, o tal Ilusão da verdade?

Como podemos evitar que sejamos manipulados por mentiras e como podemos evitar que sejamos usados como multiplicadores de mentiras?

O conhecimento.

Só o conhecimento pode combater a mentira.

Podemos começar nos questionando, por que acreditamos no que acreditamos?

Como podemos checar se tal informação é verdadeira?

Que tipo de informação tenho consumido repetidamente?

Como posso verificar a veracidade das informações que recebo ou que me exponho?

O chefe da propaganda nazista de Hitler dizia que “uma mentira repetida constantemente torna-se uma verdade”, estratégia utilizada por Hitler para conquistar as mentes dos alemães, e o resultado todos nós sabemos.

Só que não. Uma mentira, mesmo que repetida um milhão de vezes, nunca se tornará em uma verdade. Continuará sendo apenas uma mentira, sempre.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas