Me diz com quem te identificas que te direi quem és

 

Acredito que todos conhecem um ditado popular que diz assim “Me diz com quem andas que te direi quem és”.

O que significa esse ditado popular?

O que pode ter de verdadeiro nesse ditado popular?

Esse ditado popular, “me diz com quem andas que te direi quem és”, já foi, e ainda é muito utilizado, principalmente por pais, preocupados com as pessoas com quem seus filhos costumam andar ou preocupados com os grupos que seus filhos participam.

Será que esses pais têm razão para essa preocupação?

Como resposta, muitos filhos dizem não ser manipuláveis. Muitos filhos dizem que não importa o que faça pessoas com quem eles costumam andar, que eles só fazem o que acham que devem fazer, que não se deixam influenciar.

Mas tem outra questão.

Tem outro ditado, nem tão conhecido quanto o que diz “me diz com quem andas que te direi quem és”, mas pode responder aos questionamentos desse ditado. É o que diz assim, “me diz com quem andas que te direi aonde provavelmente irás chegar”.

Por que esse ditado também tem a sua importância?

Pelo simples fato que ele é baseado em outro ditado, esse, baseado em pesquisas comportamentais, que diz assim, “os iguais se procuram”.

O que isso significa?

Que as pessoas geralmente se aproximam daqueles com as quais se assemelham.

Que as pessoas geralmente se identificam com aqueles com os quais se identificam.

E é exatamente por isso que podemos falar de outro ditado, também nem tão popular, nem tão conhecido, mas é verdadeiro. O ditado é, “me diz com quem te identificas que te direi quem és”.

Geralmente, as pessoas se identificam com pessoas com as quais têm alguma admiração. As pessoas se identificam com pessoas que têm pensamentos semelhantes aos seus. As pessoas se identificam com pessoas que têm ideais semelhantes aos seus. As pessoas se identificam com pessoas que têm ideologias semelhantes às suas. As pessoas se identificam com pessoas que têm atitudes semelhantes com as suas.

Isso responde ao primeiro questionamento. O que questiona se os pais devem se preocupar com quem os seus filhos costumam andar. Sim, devem sim. Geralmente, as pessoas, por mais que digam não ser influenciáveis, mais dias menos dias acabam se assemelhando com as pessoas com as quais convivem e acabam cometendo os mesmos atos que elas.

Saber que as pessoas, através do seu convívio com outras pessoas, elas, ao mesmo tempo, influenciam e são influenciadas pelas outras.

Esse conhecimento é muito importante para sabermos mais sobre as pessoas. Importante para conhecermos melhor as pessoas.

Como?

Sabendo quem são as pessoas com as quais elas convivem.

Sabendo quem são as pessoas com as quais elas se identificam.

Sabendo quem são as pessoas com as quais elas se assemelham.

Sabendo quem são as pessoas que elas admiram.

Sabendo quem são os seus ídolos.

Isso é importante porque, sabendo disso, podemos saber o que podemos esperar das pessoas.

Sabendo com quem as pessoas se identificam podemos saber o que podemos esperar dessas pessoas.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém ético, provavelmente também será uma pessoa ética.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém de bom caráter, provavelmente também deve ser uma pessoa de bom caráter.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém que tem a sua vida balizada por valores positivos, provavelmente também deve ser uma pessoa que baliza a sua vida em valores positivos.

O contrário também é verdadeiro.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém mal caráter, provavelmente também deve ser uma pessoa mal caráter.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém que é capaz de atos reprováveis, provavelmente também será capaz de cometer os mesmos atos reprováveis.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém que não tem ética nas suas ações, provavelmente também será uma pessoa que não tem ética nas suas ações.

Uma pessoa que admira e que se identifica com alguém que tem a sua vida balizada por valores reprováveis, provavelmente também deve ser uma pessoa que baliza a sua vida em valores reprováveis.

Por essa razão,

Antes de permitir que alguém faça parte da sua vida, observe quem são as pessoas que essa pessoa admira, quem são as pessoas com quem essa pessoa se identifica, quem são os ídolos dessa pessoa.

Porque, provavelmente, essa pessoa será semelhante às pessoas com as quais se identifica.

Provavelmente essa pessoa será capaz das mesmas ações que as pessoas com as quais ela se identifica.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

 

A ocasião não faz o ladrão

 

Acredito que todos nós já escutamos alguma vez um ditado popular, que diz que a ocasião faz o ladrão.

Porém, esse ditado não pode ser considerado totalmente verdadeiro. Esse ditado não tem nenhum respaldo, nem em nenhuma observação do comportamento humano, nem em nenhuma pesquisa sobre o comportamento humano.

Não. Não é verdade que a ocasião faz o ladrão.

Na verdade, a ocasião pode sim, revelar o ladrão.

O termo em si, “ladrão”, pode ser compreendido como alguém capaz de, não apenas simplesmente cometer um ato de se apropriar de algo que não lhe pertence, mas também alguém capaz de atos desonestos, alguém capaz de atos inescrupulosos, alguém capaz de cometer atos ilegais.

E isso tem muito mais a ver com a índole, tem muito mais a ver com o caráter, tem muito mais a ver com o sistema de valores dessa pessoa, do que com a ocasião ou com a oportunidade para cometer tais atos.

 A índole, o caráter, de uma pessoa é algo que pode ser observado não apenas diante de algum ato desonesto ou ilegal, como também pode ser observado pela forma como essa pessoa lida com o mundo ao seu redor, pode ser observado pela forma como essa pessoa lida com as outras pessoas, pode ser observado pela forma como essa pessoa lida com as leis e com os regulamentos estabelecidos, pode ser observado pela forma como essa pessoa lida com as normas de convivência com as outras pessoas e com a sociedade.

O sistema de valores de uma pessoa é formado pelo conjunto da sua índole, do seu caráter, da sua forma de enxergar o mundo, pela sua forma de enxergar a si mesmo diante do mundo, pela forma de enxergar e de enfrentar as exigências do mundo, pela sua forma de enxergar e de enfrentar as normas que são estabelecidas para a vida em sociedade.

Se dentro do sistema de valores de uma pessoa está que cometer atos ilegais ou desonestos é algo aceitável e não é um problema para a sua consciência, ela é capaz de cometer esses atos ilegais ou desonestos, se tiver a oportunidade para tal.

Se dentro do sistema de valores de uma pessoa está que cometer atos ilegais ou desonestos, é algo reprovável, ela não será capaz de cometer atos ilegais ou desonestos, mesmo que tenha a oportunidade e a ocasião para tal.

Se acontecer de uma pessoa, em razão de algum cargo de confiança que assuma em uma empresa ou instituição, em razão de assumir algum cargo público, ou em razão de ter acesso ou oportunidade para se apropriar de algo que não lhe pertença, ou de cometer algum outro tipo de atitude reprovável ou ilegal, se essa pessoa tirar proveito dessa oportunidade, certamente, isso não acontecerá apenas porque a ocasião permitiu, mas acontecerá porque isso , cometer atos reprováveis, estará dentro do que é permitido pelo sistema de valores dessa pessoa.

Caso contrário, mesmo que essa pessoa tivesse todas as oportunidades e facilidades para cometer esses atos ilegais, ela não cometeria, pois iria de encontro com o seu sistema de valores.

Isso equivale a dizer que as pessoas são como são. Uma vez confiável, sempre confiável. Uma vez não merecedora de confiança, nunca merecedora de total confiança.

Isso não equivale a dizer que as pessoas não são capazes de mudar. Isso não equivale a dizer que as pessoas não são capazes de se transformar em pessoas melhores.

Claro que são. Claro que as pessoas são capazes de mudar. Porém, as pessoas só são capazes de mudar quando elas, por si mesmo, percebem ou sentem a necessidade de mudar. Geralmente quando têm algum tipo de sofrimento pela forma como são e sentem a necessidade de mudar.

Mudanças impostas por outras pessoas, mudanças impostas como forma de burlar alguma punição, mudanças impostas apenas para cumprir alguma norma ou lei, não podem ser consideradas mudanças verdadeiras, apenas podem ser consideradas como formas de se adequar ao que a situação precisa.

O fato de uma pessoa ser honesta, o fato de uma pessoa ser ética, o fato de uma pessoa ser confiável, o fato de uma pessoa ser respeitosa, com o mundo, com as outras pessoas e com as normas de convivência tem muito mais a ver com a personalidade da pessoa, tem muito mais a ver com a índole da pessoa, tem muito mais a ver com o caráter da pessoa, e não com a ocasião ou com a oportunidade.

O mal caratismo não é uma questão de ocasião. O mal caratismo é uma questão de ser. Ou a pessoa é ou a pessoa não é mal caráter. E os seus comportamentos ao longo da sua vida, as suas atuações ao longo da sua vida, é que podem demonstrar realmente o caráter de uma pessoa.

Uma pessoa que acha aceitável e normal não respeitar as leis e as normas de convivência criadas pela sociedade sempre vai achar aceitável e normal cometer atos reprováveis.

Ao contrário. Uma pessoa que acha reprovável não respeitar as leis e as normas de convivência criadas pela sociedade sempre vai considerar inaceitável cometer atos reprováveis.

Por essa razão, é tão importante sempre procurar saber mais a respeito das pessoas, procurar saber mais a respeito da história de vida das pessoas, procurar saber mais para tentar conhecer melhor o sistema de valores das pessoas.

Saber mais sobre o sistema de valores das pessoas é a melhor forma de conhecer melhor as pessoas e de saber melhor em quem pode confiar, em quem pode depositar um voto de confiança, e em quem é melhor manter distância, saber que essa pessoa não é digno de confiança, e, se não puder, manter distância dessa pessoa, ficar alerta, não permitir nenhum tipo de ligação com essa pessoa.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas

 

Se tudo fosse perfeito

 

Recentemente, falamos sobre a importância da gratidão, falamos sobre a importância de encontrar motivos para sermos gratos.

Uma das razões que dificultam para que encontremos motivos para sermos gratos é que nem sempre as coisas são como gostaríamos que fossem, nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos que acontecessem.

Podemos pensar que ser grato diante de tudo, mesmo diante de acontecimentos e situações negativas, seria uma espécie de alienação, seria uma espécie submissão, seria uma espécie de comodismo ou de resignação.

Porém, uma coisa é encontrar apenas motivos para insatisfação diante das dificuldades e das adversidades da vida. Outra coisa é encontrar motivos para ser grato por ter oportunidades de mudar aquelas situações que nos desagradam, ser grato por ter oportunidades de mudar aquelas situações que não nos satisfazem.

Até porque, se fossemos esperar para sermos gratos apenas quando tudo estivesse exatamente da forma que gostaríamos que estivesse, se fossemos esperar para sermos gratos apenas quando tudo acontecesse exatamente da forma como esperávamos que acontecesse, certamente, as oportunidades que teríamos para sermos gratos seriam bem reduzidas.

Por que? Porque se tudo fosse exatamente como gostaríamos que fosse, se tudo acontecesse exatamente como gostaríamos que acontecesse, então tudo seria perfeito.

E sabemos que perfeição não existe. Que nada é perfeito. E isso não é necessariamente uma coisa ruim.

Se perfeição existisse, se tudo fosse perfeito, não existiria necessidade de mudanças.

Se a vida fosse perfeita, não existira a necessidade de aprender a viver.

Se o mundo fosse perfeito, não existiria a necessidade de construir um mundo melhor.

Se nós fossemos perfeitos, não existira a necessidade de buscarmos continuamente a nossa melhoria. Buscar a nossa melhoria como pessoas; buscar a nossa melhoria como humanos; buscar a nossa melhoria como seres que compartilham o mesmo espaço, que compartilham o mesmo planeta com outros seres, que também não devem ser perfeitos; buscar a nossa melhoria como seres espirituais.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a liberdade para criar.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a liberdade para transformar.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a liberdade para sonhar.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a oportunidade de evoluir.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a necessidade de aprender a conviver com o outro.

Se tudo fosse perfeito não teríamos a oportunidade de aprender a conviver com o diferente. Aliás, se tudo fosse perfeito nem existiria o diferente. Porque, se tudo fosse perfeito, necessariamente tudo seguiria sempre o mesmo padrão de ser.

Podemos pensar que, a ideia de perfeição tem a ver com a ideia de algo acabado, a ideia de perfeição tem a ver com a ideia de algo finalizado, a ideia de perfeição tem a ver com a ideia de algo que não precisa mais de nenhuma mudança ou melhoria.

E sabemos que vida é movimento. Sabemos que viver é estar sempre em constante transformação. Sabemos que o mundo está sempre em constante transformação.

Sendo assim, podemos pensar que o mundo está bem distante do conceito de perfeição, podemos pensar que a vida está bem distante do conceito de perfeição, podemos pensar que nós estamos bem distantes do conceito de perfeição.

Então, podemos pensar que, já que é assim, está tudo bem?

Já que o mundo não é perfeito, já que a vida não é perfeita, já que nós não somos perfeitos, então está tudo bem? Só nos resta aceitar o mundo como ele é? Só nos resta aceitar a vida como ela é? Só nos resta nos aceitarmos como nós somos?

Não. Vida é movimento. Vida é transformação.

Viver é contribuir para transformar o mundo em um lugar melhor. Viver é contribuir para que todos possam de alguma forma viver melhor. Viver é principalmente procurar continuamente se transformar em uma pessoa melhor.

Perfeição não existe, e talvez nunca venha a existir. Mas devemos está sempre na caminhada, buscando sempre se transformar no melhor que pudermos.

Gilson Tavares

Psicanalista Clínico e Organizacional

Administrador, Especialista em gestão de pessoas